Com o objetivo de "salvar o Brasil do comunismo", manifestantes percorreram as ruas do centro de São Paulo; quatro pessoas foram detidas.
A reedição da "Marcha da Família com Deus pela Liberdade", em São Paulo, contou com mil pessoas, sendo grande parte formada por curiosos, de acordo com a Polícia Militar. O número de manifestantes neste sábado foi menor do que a página do grupo no Facebook previa. Nas redes sociais, ao menos 2 mil pessoas confirmaram presença. Entre faixas, camisetas e adereços militares, todos gritavam por uma imediata intervenção militar no Brasil, um golpe contra a atual presidente Dilma Rousseff, chamada de terrorista pelos presentes.
Ao menos 150 homens da Polícia Militar, entre a Força Tática e a chamada Tropa do Braço, foram deslocados para fazer a segurança da manifestação. O ato percorreu as ruas do centro da capital. Por volta das 16h, o movimento marchou da Praça da República até a Praça da Sé, que era ponto de encontro para a segunda manifestação do dia, a Antifacista, que relembrou os violentos e crimes contra os direitos humanos da Ditadura.
Já na concentração da Marcha ocorreram os primeiros atritos com manifestantes chamados de "petistas", por usarem peças de roupa vermelhas, cor do Partido dos Trabalhadores (PT). A PM precisou ser acionada para intervir aos gritos de "Lula ladrão" e "PT roubou". Um fotógrafo chegou a ser agredido no tumulto. Outros dois incidentes chamaram a atenção nesta tarde. Um grupo de 30 pessoas que seguia para o show do Metallica passou por apuros. Os metaleiros vestiam preto e foram confundidos com black blocks. Logo, manifestantes da Marcha começaram a gritar "lixo, lixo". Felizmente, o equívoco foi desfeito e não houve embate.
Dois homens não tiveram a mesma sorte dos metaleiros. Carregando cartazes da "Marcha da quase Família" e com vestes de empregadas domésticas, eles não foram bem recebidos pelos manifestantes. Rapidamente tiveram seus cartazes rasgados e foram hostilizados. "Vai para Cuba", gritaram os manifestantes. Muitos jornalistas homens foram hostilizados e chamados de comunistas por participantes porque tinham barba. Durante todo o trajeto a Marcha contou como plano de fundo o Hino Nacional, que foi cantado ao menos dez vezes.
O ato terminou por volta das 18h30 já no seu destino final, a Praça da Sé, com um saldo de quatro pessoas detidas pela PM. Todos teriam sido encaminhados ao 8º DP. Entre os presos, uma jovem que irá responder por crime ambiental, por ter pichado a faixa de um manifestante e outros três homens foram enquadrados por agressão, um deles teria atirado uma pedra na cabeça de um tenente da PM. Outro teria acertado um policial com uma lâmpada.
Marcha para quê?
Os organizadores do evento dizem que há ameaça comunista no Brasil e pedem a volta dos militares ao poder para acabar com a corrupção e moralizar o País. Para tanto, decidiram fazer a reedição da Marcha da Família com Deus pela Liberdade.
Em 19 de março de 1964, a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, convocada por parte da elite paulistana e da classe média, reuniu mais de 200 mil pessoas e protestava contra a "ameaça comunista". O ato virou símbolo do golpe que tirou o presidente eleito João Goulart do poder em 1º de abril.
Às 15 horas deste sábado (22), manifestantes chegaram à Praça da República, no centro de São Paulo, com roupas camufladas que lembravam o Exército e carregando imagens de santos, uma alusão à Igreja. Muitos seguravam cartazes e estavam enrolados em bandeiras do Brasil.
Aos gritos de “um, dois, três, quatro, cinco, mil, queremos os militares no comando do Brasil”, os manifestantes seguiram em direção à Praça da Sé, às 4h20. Foram deslocados 150 homens da PM, Força Tática e Tropa do Braço para fazer a segurança da manifestação.
“O País esta perdendo o seus valores e indo para o ralo. Não podemos suportar isso. Queremos resgatar os valores com os militares no poder”, disse o técnico em enfermagem, Abraão Alberto Silva, 54 anos, durante a reedição da Marcha.
Mesmo com a decepção com o País, o ufanismo era forte entre os manifestantes. Nas duas primeiras horas de evento, foi possível escutar três vezes o hino nacional. No carro que abria a marcha, a imagem de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, agradou religiosos. Um grupo de seminaristas apoiou o uso da imagem já que para eles, ela representa o mais puro sentimento de humanismo e família.
O seminarista Gabriel Piccoli, 20 anos, veio prestar apoio ao movimento e acredita que a intervenção militar pode ser uma opção. Ele só discorda do tom dado ao movimento, como ofensas a presidente Dilma, tratada como terrorista e comunista pela maioria dos manifestantes.
“Ao contrário do que muitos pensam, nós seminaristas estamos muito ligados no que acontece no Brasil. Se os militares resgatarem os valores morais da sociedade eles são uma opção sim. Tudo é bem vindo menos o comunismo e o socialismo que são abomináveis”, disse.
Fonte: IG
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