Especialista
sugere que a Fotografia do Ano 2012 foi feita a partir várias imagens, World
Press Photo garante que o ficheiro original garante que não houve composição.
A organização do World Press Photo, o maior concurso de fotojornalismo
do mundo, confirmou a “integridade” da imagem vencedora, da autoria do
fotógrafo sueco Paul Hansen, depois de a polémica ter estalado novamente com a
publicação de um artigo da revista Der Spiegel sobre os
limites da manipulação das imagens no fotojornalismo e de um post num
blog de um especialista em análise forense de imagens sugerir que haveria
composição de várias imagens na fotografia vencedora.
Na verdade, a polémica nunca abandonou a fotografia de um funeral de
duas crianças na Faixa de Gaza, vítimas mortais da retaliação com mísseis do
Exército israelita depois de um ataque com rockets palestinianos,
em Novembro do ano passado. As acusações de “embelezamento” ou “enfatização” da
realidade vieram de bloggers pró-israelitas, mas houve também jornalistas
contra atribuição do prémio a uma imagem que terá sido demasiado pós-produzida.
Uma semana depois da entrega do prémio (a cerimónia aconteceu no dia 27
de Abril) a Paul Hansen, a revista Der Spiegel publicou um artigo que
regressa ao tema dos limites da manipulação das imagens no fotojornalismo e das
ferramentas de edição que tendem a “dramatizar” a realidade, de maneira a
seduzir e a captar a atenção dos leitores.
Neal Krawetz, especialista norte-americano em análise forense de
imagens, continuou a discussão no seu blogue (hackerfactor.com) e o rastilho
acendeu-se definitivamente quando o site extremetech.com decidiu tirar
conclusões a partir do post de Krawetz num artigo intitulado “Como é que a
Fotografia do Ano World Press Photo 2013 [na verdade, 2012] foi falsificada com
Photoshop”. De acordo com este texto, a fotografia de Hansen é uma composição
de pelo menos três imagens do mesmo acontecimento, o que significaria que teria
forjado um momento particular que na realidade nunca aconteceu.
Para além de uma multiplicidade de questões técnicas, outra das
acusações de que Hansen tem sido vítima é a de que se terá recusado a entregar
ao júri o ficheiro RAW (uma espécie de negativo digital) da imagem vencedora,
documento que permite provar a “integridade” do fotograma captado. Segundo a
WPP, Hansen já tinha explicado ao detalhe a forma como a sua fotografia foi
captada e posteriormente tratada e que, perante os dados apresentados, não
houve necessidade de questionar essa explicação. Agora que a fogueira da
polémica foi ateada com mais achas, a WPP pediu mais explicações a Hansen e o
fotógrafo mostrou-se “totalmente cooperante” entregando o ficheiro RAW e o
ficheiro em formato JPEG (que foi visto pelo júri que lhe atribuiu o prémio) à
organização para que esta o submetesse à análise de peritos independentes.
As conclusões dos dois especialistas contatados pelo WPP é unânime na
certeza de que a fotografia vencedora não foi composta. E também é coincidente
na certeza de que a pós-produção visou sobre tudo a “aclaramento” e o
“escurecimento” de determinadas zonas da imagem. “É evidente que a fotografia
foi retocada quer globalmente quer em zonas particulares no que diz respeito a
cor e a tonalidade. Tirando isto, não encontrámos nenhuma prova que indique
manipulação significativa ou composição”, refere o depoimento de Hany Farid,
professor de Ciências Computacionais no Dartmouth College e presidente executivo
da Fourandsix Technologies. Por seu lado, Eduard de Kam, especialista em
fotografia digital do Nederlands Instituut voor Digitale Fotografie, afirma que
as posições de todos os píxeis são coincidentes entre o ficheiro RAW e o
ficheiro JPEG que foi apreciado pelo júri. “Ponho de parte qualquer questão
relacionada com composição de imagem”, concluiu.
"Não é uma composição nem uma farsa"
Na segunda-feira, em reação às acusações de que a fotografia do funeral de Gaza era uma criação de pós-produção, Paul Hansen garantiu que a sua imagem “não era uma composição nem uma farsa”. “Nunca tive uma fotografia tão exaustivamente analisada por quatro peritos e diferentes júris de fotografia de todo mundo”, afirmou em declarações ao jornal australianoNews.
Na segunda-feira, em reação às acusações de que a fotografia do funeral de Gaza era uma criação de pós-produção, Paul Hansen garantiu que a sua imagem “não era uma composição nem uma farsa”. “Nunca tive uma fotografia tão exaustivamente analisada por quatro peritos e diferentes júris de fotografia de todo mundo”, afirmou em declarações ao jornal australianoNews.
A rematar o comunicado que divulgou na terça-feira ao fim do dia, o WPP
lembra que as regras do concurso “não permitem que o conteúdo das imagens seja
alterado”. E que apenas são permitidos “retoques que estejam em conformidade
com as práticas aceites pela área” do fotojornalismo. O texto do concurso, que
recebe milhões de pessoas todos os anos nas suas exposições, refere que é ao
júri que compete definir os limites “aceitáveis” de retoque e pós-produção em
cada categoria. E que durante este processo, podem ser pedidos os ficheiros
originais inalterados. Mesmo quando as dúvidas subsistem após a decisão ter
sido tomada, as regras ditam que possa haver uma reapreciação dos documentos
originais, situação que agora aconteceu sem qualquer consequência para o fotógrafo
premiado, que continua a ostentar o prémio de autor da Fotografia do Ano de
2012 do World Press Photo.
A história das manipulações em fotografia é tão velha como a história da
fotografia. O que equivale a dizer que esta história não acaba aqui, pelo menos
enquanto houver algum suporte a que chamemos fotografia. A provar esta
dinâmica, Neal Krawetz publicou um novo post sobre a
fotografia de Paul Hansen, onde reitera a maior parte das acusações do primeiro post ao
mesmo tempo em que encontra argumentos para novas dúvidas sobre como é que se
chegou à imagem vencedora. E a pergunta que fica sempre no ar é: afinal, quando
é que uma imagem fotográfica feita com as regras do jornalismo e utilizando a autoestrada
da pós-produção digital ultrapassa a fronteira do real?
Segue
o link do Canal no YouTube e o Blog
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