Com o discurso de proteção da vida desde a concepção, deputados da
Comissão de Finanças e Tributação da Câmara aprovaram, nesta quarta-feira (5),
um projeto de lei que pode dificultar a realização do aborto previsto em lei. O texto também cria uma espécie de "bolsa"
para a mulher vítima de estupro que mantiver a gestação.
Apelidado de "Estatuto do
Nascituro", o texto estabelece que devam ser reconhecidos, desde a
concepção, "todos os direitos do nascituro, em especial o direito à vida,
à saúde, ao desenvolvimento e à integridade física e os demais direitos da
personalidade".
Apesar de não alterar o Código
Penal para excluir da lei o aborto já permitido no país --em caso de estupro,
risco de vida para a mãe ou de fetos com anencefalia--, o projeto abre brecha
para que a interrupção da gestação nesses casos seja dificultada ou proibida no
futuro, avaliam alguns deputados.
O projeto serve, sobretudo,
como forma de a bancada religiosa marcar sua posição nesse debate. E pode ter
impacto no descarte e no uso em pesquisas de embriões congelados.
O projeto foi relatado pelo deputado evangélico Eduardo Cunha
(PMDB-RJ) e é alavancado pelas bancadas religiosas do Congresso. Por
outro lado, encontra resistência da bancada do PT e da SPM (Secretaria de
Políticas para as Mulheres da Presidência da República).
"Se temos a compreensão
que a vida começa na concepção, o princípio da proteção integral deve se
estabelecer já concepção do ser humano", defendeu o deputado evangélico
João Campos (PSDB-GO).
O projeto segue agora para análise
da Comissão de Constituição e Justiça e o plenário da Câmara e, se aprovado,
vai ao Senado.
"Não digo que o texto acaba com o aborto legal, mas abre margem para o
processo de criminalização. Na prática, além de conviver com a vergonha de ser
violentada, a mulher vai ter dificuldade de exercer seus direitos",
argumentou o deputado Cláudio Puty (PT-PA), que votou contrário ao parecer
do relator.
Puty lembrou que o impacto maior seria sobre as mulheres, mas que
a discussão era feita maciçamente por homens. "Nós homens, que não seremos
estuprados nem teremos a capacidade de gerar vida, estamos decidindo por
mulheres que terão como consequência a criminalização do ato de abortar em caso
de estupro, hoje previsto na legislação. Não é ser a favor ou contra a vida,
gera algo pouco civilizado."
Relator do texto, Cunha
defendeu que o projeto não altera o Código Penal para excluir os casos de
aborto legal, mas dá suporte a mulheres que quiserem ter o filho. "Aquela
que não quer abortar deve ter o direito mínimo de subsistência. Uma coisa é autorizar o aborto, como a lei
prevê, outra é levar a mulher ao aborto por não dar condições de sobrevivência."
BOLSA
Além de dar garantias ao bebê
em gestação --inclusive aos embriões congelados--, o projeto define uma espécie
de "bolsa" para a mulher vítima de estupro.
"Na hipótese de a mãe
vítima de estupro não dispor de meios econômicos suficientes para cuidar da
vida, da saúde do desenvolvimento e da educação da criança, o Estado arcará com
os custos respectivos até que venha a ser identificado e responsabilizado por
pensão o genitor ou venha a ser adotada a criança, se assim for da vontade da
mãe", diz o projeto.
"É uma bolsa-estupro! Significa dizer: eu estou pagando pelo
estupro que você sofreu!", protestou a deputada Erika Kokay (PT-DF).
Deputados contrários ao texto
tentaram argumentar que, ao criar despesas de caráter continuado da forma
genérica como está escrito, o projeto iria contra a Lei de Responsabilidade
Fiscal.
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Como diz a letra da musica do Legião Urbana "QUE PAIS É ESTE?"
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