Acusado de
envolvimento com narcotráfico, lavagem de dinheiro e de ser o maior
contrabandista de cigarros para o Brasil, o multimilionário Horacio Cartes, do
Partido Liberal, será o próximo presidente do Paraguai, indicam resultados
da apuração divulgados neste domingo, 21. Com Cartes, um novato na
política, os colorados retomam sua histórica hegemonia sobre o poder paraguaio,
dez meses após a queda de Fernando Lugo.
Segundo observadores internacionais, as eleições
de hoje foram legítimas. Será, portanto, sob o governo colorado que
Assunção retomará o status pleno no Mercosul e na Unasul a partir do próximo
semestre – Cartes toma posse em agosto. Em entrevista a uma rádio local antes
da divulgação dos resultados oficiais, o candidato vitorioso afirmou que já
esperava o triunfo sobre o advogado Efraín Alegre, do Partido Liberal. Cartes
afirmou que “a participação dos jovens desde as primárias do partido” foi
decisiva.
O colorado teve
45,98%% dos votos e o liberal 36,9%, com 56% das urnas apuradas . Além do
Palácio los López, o Partido Colorado teria conquistado ainda a maioria do
Congresso. Cartes, de 56 anos, foi o favorito desde o início da campanha, mas
viu sua vantagem diminuir nos últimos meses. O bom momento de Alegre, porém,
não foi suficiente.
Liberais ameaçaram não reconhecer o resultado da
eleição após um comentário do vice-presidente do Tribunal Superior de Justiça
Eleitoral (TSJE), Juan Manuel Morales. Seis horas antes do fechamento das
urnas, o ministro disse que as primeiras informações indicavam ampla vantagem
de “um dos candidatos”. Em seguida, completou: “E Efraín (Alegre) terá de
reconhecer essa realidade”, insinuando que o rival de Cartes estava prestes a
ser derrotado. Morales, número 2 da Justiça Eleitoral, foi candidato à
prefeitura de Assunção, em 1992, pelo Partido Colorado e ministro da Justiça no
governo – também colorado – de Juan Carlos Wasmosy (1993-1998).
Diego Abente Brun, chefe da campanha de Alegre, disse
ao Estado que os comentários são “delitos flagrantes e absurdos” cometidos para
influenciar os resultados das urnas. Em entrevista coletiva, o próprio
candidato liberal acusou o vice-presidente do STJE de conspirar contra sua
candidatura. Os colorados silenciaram.
Tranquilidade. Houve ainda denúncias de compra de
votos em regiões afastadas, mas, segundo observadores, os desvios “não saíram
do esperado” para o Paraguai. Oficialmente, o chefe da missão eleitoral da OEA,
o ex-presidente da Costa Rica e Nobel da Paz, Oscar Árias, disse não ter
recebido nenhuma denúncia. “Estou muito contente em ver a tranquilidade das
pessoas”, afirmou.
Apesar de as pesquisas de boca de urna serem
proibidas no dia da eleição, diversas sondagens foram divulgadas, de hora em
hora, pelos principais grupos de imprensa, trocando apenas os nomes dos
candidatos por letras como “X” e “Y”.
“Há uma lei clara contra esses levantamentos, mas ela
foi ignorada”, afirmou um dos coordenadores do grupo de observadores da União
Europeia. Ele se disse “chocado” com a violação, mas negou que ela possa ter
interferido decisivamente no resultado final, considerando a ampla margem que
obteve Cartes sobre seu rival.
Embora tenha sido enxotada do poder em junho, a
esquerda paraguaia aparentemente conseguiu ontem um resultado inédito no
Congresso: tornar-se a terceira maior força política do país. O objetivo agora,
segundo disse ao Estado Mario Ferrero – o terceiro colocado na disputa
presidencial –, é unificar os grupos esquerdistas, os quais disputaram
divididos a campanha.
No Paraguai, o Legislativo tem amplos poderes sobre o
Executivo, incluindo a capacidade abrir “julgamentos políticos” contra
presidentes – como ocorreu com Lugo. Ao contrário do ex-bispo, cujo partido era
inexpressivo no Congresso, Cartes governará com maioria.
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