No quintal dos
fundos de uma casa térrea no Butantã, que foi transformada em escritório de
engenharia, uma máquina não chama muito a atenção, a não ser por sua cor
amarela. O porte pequeno, com dimensões não muito maiores que uma mesa de
jantar, disfarça seu peso de 2,5 toneladas e esconde seu incrível poder, que
pode chegar a até 10 toneladas-força. Esta é a Vibrodina, utilizada para testar
as vibrações de grandes construções, como pontes e arquibancadas de estádios.
Encontrá-la
estacionada no terreno da IEME Brasil foi uma feliz coincidência: ela acabara
de retornar da Arena Corinthians, o popular Itaquerão, e seguiria viagem em
alguns dias para Natal, onde será utilizada na Arena das Dunas — os dois
estádios devem ser utilizados na Copa do Mundo de 2014. Em ambos, a Vibrodina
cumpre a mesma função: aplicar cargas dinâmicas à arquibancada para simular a
vibração da torcida e, assim, ajudar a conferir se está tudo certo na
construção.
Mas como esse compacto e parrudo equipamento
consegue simular os pulos de uma torcida de futebol? Não se engane: apesar das
dimensões reduzidas — 1,2m de largura por 1m de comprimento e 1,2m de altura —,
a Vibrodina é potente o suficiente para estar na nossa seção Máquinas Monstruosas.
O segredo está no uso da força centrífuga.
Ela tem dois discos de 60cm de diâmetro, em que são dispostas massas de chumbo.
Com a máquina fixada no chão da estrutura a ser testada, um motor elétrico
aciona os discos, que giram e transmitem a força para a construção, fazendo-a
vibrar.
A alimentação é feita por um gerador de 380V
e 40 KVA movido a óleo diesel. Quase toda a potência gerada vai para a máquina.
A intensidade das vibrações varia de acordo com a posição da massa no disco,
enquanto a frequência, que chega até 20Hz, depende da velocidade do motor —
tudo isso é controlado eletronicamente. Para chegar até o local dos testes, ela
é levada por um caminhão Munck e precisa ser carregada por uma grua até os
locais altos.
Mas não
basta apenas fazer a arquibancada tremer: a vibração tem que ser medida.
Segundo Marco Juliani, diretor técnico da IEME Brasil, há três grandezas
envolvidas no processo: o deslocamento, a velocidade e a aceleração — esta última
é à medida que interessa para garantir a segurança e o conforto do público. Por
isso, são usados vinte acelerômetros para medir a vibração — se a estrutura for
muito grande, eles são trocados de lugar e o teste é repetido, para cobrir toda
a área.
Obtidos
os resultados, vem à fase de análise, em que os valores experimentais são
comparados com aqueles previstos no projeto. Caso sejam próximos, a obra está
aprovada; caso contrário, é sinal de que a estrutura apresenta alguma anomalia
na execução, que deve ser corrigida. De acordo com Juliani, não há um consenso
sobre um limite aceitável em estádios, mas o valor fica entre 500 e 600 mm/s².
Além
disso, as situações de vibração máxima são esporádicas e ocorrem poucas vezes
durante um evento — pense no gol do time da casa ou no grande hit da banda que
está tocando: é para momentos de empolgação como esses que a estrutura é
testada.
Se adaptando à nova torcida
A Vibrodina foi encomendada — ela não é
produzida em série — pela empresa em 1996, para realizar os testes de vibração
no Estádio do Morumbi, que havia sido interditado um ano antes pelo Contru
(Departamento de Controle do Uso de Imóveis da Prefeitura de São Paulo). Mesmo
depois de reformas, o estádio ainda tremia muito, já que, além da falta de
manutenção, tinha sido projetado numa época em que o comportamento da torcida
era diferente: estádio era lugar de ir com terno e grava, aplaudir e assistir
ao jogo sentado. Muita coisa mudou.
O teste com a máquina — o primeiro do tipo a
ser realizado num estádio brasileiro, algo totalmente inusitado na época —
identificou o problema e permitiu apontar uma solução: as arquibancadas
receberam amortecedores, para dar estabilidade e diminuir as vibrações.
De lá para cá, a Vibrodina fez tremer tanto estádios antigos, como o
Pacaembu, o Canindé e o Maracanã. Com a confirmação do Brasil como sede em 2014
e a construção e adequação de diversos estádios pelo país, a máquina está sendo
utilizada cada vez mais, e tem viajado bastante — ela já esteve nos futuros
estádios de Corinthians e Palmeiras. Além disso, com o passar dos anos, a
máquina recebeu atualizações na parte eletrônica, ganhando novos sensores e
softwares de controle. O equipamento, segundo Juliani, também é utilizado em
outros tipos de empreendimentos, como pontes e barragens.
O teste com cargas dinâmicas traz algumas boas vantagens: em primeiro
lugar, ele não é destrutivo — você não precisa derrubar ou esmagar nada para
provar que aquele lugar aguenta tal impacto. Em segundo lugar, a Vibrodina
simula uma situação realista de uso, além de demandar um esforço menor do que
um teste de cargas estáticas — imagine lotar uma estádio com sacos de areia
para reproduzir o peso da torcida. Além da segurança, tudo isso contribui para
que você sinta a emoção certa na arquibancada quando seu time marcar um gol:
não medo, mas sim alegria.
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