Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra
Foto: Passado e Presente
Ex-agente do
DOI-Codi afirma que Ustra era “senhor da vida e da morte”. Marival Chagas disse
à Comissão Nacional da Verdade que corpos eram exibidos como troféus.
O ex-sargento Marival
Chagas, ex-servidor do DOI-Codi de São Paulo, afirmou nesta sexta-feira durante
depoimento à Comissão Nacional da Verdade que o coronel Carlos
Alberto Brilhante Ustra, então capitão, comandava as torturas
na repressão e era conhecido como “senhor da vida e da morte” nos porões da
ditadura. Ainda segundo Marival, Ustra ordenava que os cadáveres de militantes
mortos fosse exibidos como troféus a agentes da repressão dentro do DOI-Codi.
“Um
capitão (Ustra) era naquela ocasião senhor da vida e da morte. Não tenho dúvida
que ele torturava, porque ele circulava pela área de interrogatório,
especialmente quando tinham presos importantes sendo interrogados. Vi ele lá,
por exemplo, na antessala do interrogatório, aguardando o momento de serem
chamados o Wladimir Herzog e Paulo Markun”, disse Marival no depoimento, que
ocorre na sede da Comissão Nacional da Verdade, no Centro Cultural Banco do
Brasil, em Brasília.
Marival
Chagas trabalhou na análise de documentos do DOI-Codi, entre 1973 e 1974, onde
fez cursos nos quais aprendeu técnicas de tortura como o pau de arara. O
ex-sargento contou ainda que saiu do Exército porque não aguentou conviver com
as cenas de atrocidades e negou que tivesse participado de qualquer episódio de
tortura.
“(Os corpos) eram exibidos como troféu, ainda
com sangue jorrando. Esse casal foi trazido para o DOI-Codi depois de morto e
exposto a visitação interna. Eu vi o casal morto e vi perfurações a bala bem
direcionadas na cabeça, nos ouvidos”, relatou Marival, citando o casal de militantes
Antonio Carlos Bicalho Lana e Sônia Maria Moraes Angel Jones. O episódio teria
ocorrido, segundo o ex-agente, no final de 1973, em um centro de tortura
localizado na Serra do Mar.
O
coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra foi o comandante do Destacamento de
Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna do 2º Exército
em São Paulo (DOI-Codi/SP) entre 1970 e 1974. Ele também é aguardado para
prestar depoimento hoje, mas deve permanecer calado após obter na Justiça um
habeas corpus que lhe garante o direito de ficar em silêncio e não se
incriminar. A liminar também determinou que seja garantida sua integridade
física durante o depoimento e, por isso, a Polícia Federal montou esquema de
segurança especial no local.
Segundo
o advogado Paulo Alves de Sousa, que representa Ustra, o coronel deverá apenas
entregar uma petição e um exemplar de seu livro “Verdade Sufocada”, no qual
descreve sua atuação durante a ditadura.
Fonte: Agência Brasil
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