quinta-feira, 9 de maio de 2013

OS PESADELOS DAS REFUGIADAS SÍRIAS

 
 
Segundo o Alto Comissariado da ONU para Refugiados (UNHCR na sigla em inglês), desde o início da revolução contra o presidente sírio Bashar al-Assad, pelo menos 153.505 refugiados se abrigaram no Líbano, na maioria crianças e mulheres. São quase todas donas de casa, mas também há estudantes, professoras, aposentadas e viúvas. Para fugir de uma revolução que lentamente se transformou em guerra civil em plena escala, muitas atravessaram a fronteira ilegalmente, desafiando os tiros das forças de segurança para salvar a vida de seus filhos. Hoje vivem dispersas entre a cidade de Trípoli, ao norte, e as inúmeras aldeias ao longo da fronteira síria. “Esta guerra é um fardo sobre nossos ombros. Muitas de nós perdemos os maridos e os filhos, e agora temos de cuidar das famílias sozinhas”, explica Rasha, 27 anos, que fugiu da aldeia de Soran em 1 de março de 2012 e hoje está hospedada com parentes em um apartamento de dois quartos em Bekaa.
 
Assim como ela, dezenas de milhares de refugiados sírios (53.191, segundo o UNHCR) ainda não estão registrados e vivem em situações desesperadas. Abrigados em porões, celeiros ou tendas, eles sobrevivem graças às escassas rações alimentares distribuídas por ONGs locais. O governo libanês, que nunca assinou a Convenção de Genebra sobre Refugiados de 1951 e não tem uma legislação específica para lidar com eles, até agora se recusou a montar campos de refugiados para os sírios, por medo de que eles sejam infiltrados por grupos rebeldes armados.
Para sobreviver, alguns dos mais jovens trabalham na agricultura, ganhando apenas mil libras libanesas por hora (cerca de 0,60 centavos de dólar). “Não temos dinheiro para comprar nada”, queixa-se Wurud, uma mulher de 50 anos da aldeia síria de Zahra, que chegou ao Líbano com outros 22 parentes. “Meus filhos são tratados como escravos. Eles ganham a metade do que ganha um libanês, pelo dobro do trabalho.” Sem meios para pagar uma acomodação decente, a família de Wurud vive em um estábulo de tijolos, sem janelas ou piso, com alguns colchões como únicos móveis. “Poucos dias depois de chegarmos aqui, meu marido sofreu um infarto”, continua Wurud, indicando um homem de meia-idade deitado no chão ao seu lado. A poucos metros de distância, sua filha Tara, de 25 anos, está sentada sobre uma pilha de tijolos, claramente distraída em seus pensamentos. O marido de Tara decidiu ficar na Síria para cuidar de seus pais, mas morreu alguns dias depois que ela partiu. Até agora ninguém teve coragem de dar a notícia a Tara. Sem saber de nada, ela continua esperando que ele telefone.
Muitas dessas mulheres refugiadas no Líbano estão a meio caminho entre prisioneiras e fantasmas, tentando evitar contatos com a população local por medo de ser apanhadas pelos agentes do Hezbollah, a milícia xiita e partido político aliado de Assad que constantemente vasculha o país em busca de dissidentes.
As famílias que conseguiram chegar a Trípoli tiveram sorte. Habitada predominantemente por sunitas, a cidade se tornou o principal baluarte da oposição síria no Líbano. Aqui os refugiados podem desfrutar de serviços de saúde adequados e uma relativa segurança, mas em Bekaa a situação é totalmente diferente. Dividida entre xiitas, sunitas e cristãos, a região foi o teatro de vários ataques aéreos praticados pelo exército sírio, assim como detenções e sequestros de ativistas políticos e adversários do regime sírio.
O Hezbollah controla a maior parte da região e causa dificuldades para os refugiados e as pessoas que os ajudam. “Eles me visitaram várias vezes para me advertir e revistar a casa, mas eu não tenho medo. O que podem me fazer?”, pergunta Hassan ironicamente, com um olhar desafiador. De meia-idade, com uma barba grisalha curta, Hassan é um libanês que aderiu à causa da revolução desde o início: ele viaja até a fronteira diariamente para receber os novos refugiados e tenta encontrar acomodações para eles nas casas de amigos e parentes. “Para mim é uma missão”, ele explica, sentado em uma cadeira plástica em seu pomar.
Até agora Hassan conseguiu abrigar 2 mil refugiados sírios em uma aldeia de apenas 9 mil habitantes. Seu amigo Mustafah, um libanês de pele clara e sardento, com cabelos ruivos crespos, atualmente hospeda uma família no porão de sua casa. “Em 2006, quando o Líbano foi atacado por Israel, os sírios ajudaram muitos libaneses”, ele explica. “Agora é nossa vez de ajudá-los.”
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