Emblema do Grupo Abril, revista Playboy estará entre
as publicações a serem “descontinuadas” pela editora. Circulação que já superou
1,2 milhão está abaixo dos 150 mil exemplares. Público adolescente migrou para
a internet na troca de ensaios estáticos por cenas mais quentes.
Cortar até mil funcionários, economizar R$ 100 milhões dentro de um
faturamento, no ano passado, superior a R$ 2,8 bilhões e superar a ausência de
Roberto Civita. Tudo isso não parece estar tirando o sono dos irmãos Giancarlo,
o Gianca, e Victor Civita Neto, o Titi, os novos maiorais do Grupo Abril.
Afinal, na semana passada eles já começaram as demissões por cerca de 70
jornalistas que ocupavam cargos de direção nas muitas superintendências da
editora. O que está efetivamente preocupando a dupla é outra decisão a ser
tomada: a de fechar ou manter aberta a revista Playboy. A lista das revistas
que serão “descontinuadas” pela Abril sai nesta segunda-feira 10.
(Atualização: A decisão dos irmãos Giancarlo, o Gianca, e
Vitor Civita Neto, o Titi, foi a de incluir a publicação na lista das revistas
que serão “descontinuadas” pelo Grupo Abril)
Um dos emblemas da Abril, que publica a revista fundada por Hugh Heffner
desde o final da década de 1970, a Playboy virou uma máquina de dar prejuízos.
A circulação da mensal sofreu o maior tombo entre todas as fortes quedas
verificadas na editora, com suas vendas reduzidas em 38, 52%, caindo de 221,7
mil exemplares para 136,3 mil exemplares vendidos no último mês. O preço de
capa, hoje superior a R$ 10, se deprecia rapidamente, com exemplares de apenas
quatros meses atrás podendo ser comprados em bancas que os guardam por menos da
metade do preço, como revela o pesquisador Leandro Mendes em seu blog Revista
que Amamos. Como a Playboy não tem as chamadas matérias quentes, mas
ancora-se em fotos de mulheres famosas nuas, essa depreciação é um dos
elementos que acentua a queda da circulação. Por que, afinal, comprar caro hoje
o que se pode pagar barato logo em seguida?
O dilema da Playboy, no entanto, é ainda mais profundo. Nascida com o
apoio de um grande público adolescente, a revista ressente-se hoje da migração
desse público para a internet, onde a oferta de fotos – e vídeos – sensuais,
com mulheres de sonhos, é ampla e franca. Por que comprar uma revista de papel,
com ensaios estáticos, se uma busca no google pode oferecer muito mais diversão
a custo zero, é outra pergunta que, ao que parece, os leitores da revista estão
se fazendo.
Há mais. Para manter um time de estrelas em suas capas, como a atriz
Flávia Alessandra, entre outras, a Playboy, mesmo sem concorrentes para seu
antigo padrão de beletrismo, hoje aviltado, usou contra si própria sua fórmula
de glamour. Isto é: passou a oferecer cachês altíssimos, que muitas vezes
envolveram a concessão de participação de até 50% no valor da capa da
publicação para suas estrelas, além de um pagamento fixo. Essas remunerações
chegaram, muitas vezes, a mais de um milhão de reais a cada mulher. No entanto,
apesar de tanto dinheiro envolvido, muitas capas encalharam, como a da,
digamos, intelectual Fernanda Young, a que se comentou na ocasião da
publicação.
Pagando caro e, mesmo assim, sem garantia de vendas, a Playboy passou a
ter seu número de páginas reduzido. Os ensaios comprados da revista americana,
que contribuíram para o sucesso da revista, desapareceram de suas páginas. As
famosas entrevistas, onde se encontravam revelações inéditas de personagens
famosos, perderam a ‘pegada’, recaindo sob o leito do tradicionalismo. Os
antigos famosos diretores de redação foram substuídos, com o passar dos anos,
por jovens quadros de carreira da Abril. A qualidade da publicação, é claro, se
ressentiu.
Fechar a Playboy é a decisão mais difícil da nova dupla de mandatários
do Grupo Abril, onde a morte de Roberto Civita resultou não na ascensão de
quadros de carreira, mas simplesmente na passagem de comando para seus filhos
homens. O que eles fizerem será informado ao mercado como a decisão mais
correta. Lá dentro, sim, mas aqui fora a ótica é outra.
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