O acordo de Genebra sobre o problema nuclear iraniano, que Barack Obama esperava transformar em triunfo da sua política externa, triunfo de que ele necessita tanto agora, pode resultar em mais uma maldição para o presidente. No congresso amadurece uma rebelião contra o encerramento do “dossiê iraniano”.
Note-se que Obama e o secretário de Estado John Kerry são alvos de críticas por parte dos republicanos e dos democratas. O congresso pára de funcionar por causa do “fim-de-semana longo” que inclui o Dia de Ação de Graças, festejado em 28 de novembro. Mas os próximos quatro dias não serão festivos, nem tranquilos tanto para a Casa Branca, como para o Departamento de Estado.
Uma prova da seriedade do problema é que Obama e Kerry pretendem telefonar nos dias de folga aos senadores e congressistas a fim de convencê-los a não fazer ações “insensatas” e apoiar os acordos intermédios que se conseguiu firmar em Genebra. Kerry chegou a gravar uma mensagem vídeo especial em que faz explicações da essência dos acordos de Genebra.
Não é apenas um vídeo, é um apelo desesperado no estilo: “Não acreditem naquilo que lhes dizem, mas acreditem somente a mim!”.
A essência dos acordos, diz Kerry, está sendo deturpada, o seu sentido e as possíveis consequências são interpretados incorretamente. Trata-se dos acordos intermédios.
Será cancelada somente uma pequena parte das sanções em troca da cessação do enriquecimento do urânio. E este acordo é histórico, declarou John Kerry:
“Admitimos isso em troca do consentimento do Irã de cumprir a sua parte do acordo. Eles irão receber uma parte relativamente pequena dos seus ativos congelados. Além disso, poderemos renunciar à suavização das sanções caso virmos que eles não cumprem a sua promessa. Admitimos apenas uma pequena suavização das sanções.
O Irã terá a permissão de receber cerca de 4,2 bilhões de dólares de ingressos, até agora congelados, com a venda do petróleo. Além disso, poderá vender derivados de petróleo e maquinaria no valor de 2,5 bilhões. Devem acreditar em mim quando digo que esta suavização das sanções é restrita e pode ser revogada a qualquer momento”.
Não é nada comum ouvir o secretário de Estado norte-americano vir com exortações deste gênero. Isso ocorre porque o campo de adversários de “condescendências para o Irã” inclui hoje não somente os republicanos, mas também os dirigentes do comitê do Senado para relações internacionais.
“As sanções contra o Irã funcionaram muito bem e eram algo como se tivéssemos aplicado um golpe contra o “corpo” do Irã e agora nós próprios neutralizássemos o efeito deste golpe”, - declarou o senador Lilndsey Graham. Estes argumentos de Graham, um dos adversários mais convictos da normalização das relações entre os EUA e o Irã, são a quintessência das opiniões de todos os adversários do arquivamento do “dossiê iraniano”:
“Esta transação intermédia no tocante a sanções libera para o Irã 7 bilhões de dólares em forma de disponibilidade de caixa. Ela não afeta de forma alguma o programa de enriquecimento do urânio. Há dez anos o Irã tinha dez centrífugas. Agora ele possui 18 mil.
Outrora fizemos o mesmo para a Coreia do Norte. Eles prometeram não pôr em funcionamento o reator, que já estava próximo na fase final de construção. Mas quando as sanções contra a Coreia do Norte foram suavizadas, eles retiraram o dinheiro e renunciaram à transação. O mesmo preocupa-nos agora. As centrífugas restantes permitirão ao Irã tornar-se uma potência nuclear”.
No congresso fala-se agora da adoção de um projeto-de-lei sobre novas sanções contra o Irã. O único compromisso que o congresso admite por enquanto, é revogar a entrada desta lei em vigor por um prazo de seis meses, o que corresponde ao prazo de vigência dos acordos intermédios de Genebra.
O presidente Obama necessita da “vitória no caso do Irã” a fim de levantar a sua reputação, catastroficamente baixa por causa do escândalo em torno da vigilância global, efetuada pela Agência de Segurança Nacional, e por causa do fracasso da reforma do sistema de saúde e a desilusão geral dos americanos com o quadragésimo quarto presidente.
Tudo que ocorre no congresso em torno do “dossiê iraniano” confirma, infelizmente, mais uma vez como é grande a queda do prestígio do presidente dos EUA na colina do Capitólio. Os combates de verdade vão começar lá em 2 de dezembro, quando o congresso voltar das férias.
Fonte: Voz da Rússia
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