A World Wide Web tem muitos aniversários: o dia em que foi inaugurada, o dia em que se tornou pública… E há uma data igualmente importante: o dia em que Tim Berners-Lee, pai da web, finalizou sua proposta para um “grande banco de dados em hipertexto com links“. O problema é que, cada vez mais, esta grande rede corre o risco de ser dividida em pedaços.
Um novo estudo da Universidade da Califórnia em Davis, financiado em parte por uma bolsa do Google Research*, declara que “a era de uma internet global pode estar acabando”. O motivo? As barreiras que governos de todo o mundo – inclusive do Brasil – estão criando para protegerem seus países da espionagem digital.
Esta onda de “balcanização” da web ganhou força, é claro, após as revelações de Edward Snowden: seus inúmeros documentos mostram que a NSA espiona todo mundo – países, políticos e empresas – usando técnicas bastante avançadas, interferindo no tráfego da internet e até fingindo ser o Facebook para coletar informações. E o Brasil é alvo prioritário dessa espionagem, que cobre até mesmo a Petrobras, a presidente Dilma Rousseff e o governo brasileiro em geral.
Por isso esboçamos reações para evitar que nosso tráfego de internet passe pelos EUA: por exemplo, teremos um cabo submarino que liga a América do Sul diretamente à Europa. E também temos o polêmico Marco Civil da internet, que quer obrigar empresas a manter dados pessoais de usuários brasileiros em data centers no Brasil. Isso arrisca criar uma “Brasilnet”, podendo nos deixar mais isolados do mundo.
No entanto, o Brasil não é o único país propondo um isolamento da internet em geral. O estudo cita medidas de 12 países e da União Europeia com teor semelhante. Algumas são restritas a casos específicos, como na Austrália e Canadá. Mas em outros lugares, como na Europa, temos algo mais agressivo.
O governo alemão quer criar uma infraestrutura local de data centers, para que os dados não saiam do país – e não sejam monitorados pela NSA. O governo francês quer fazer o mesmo, e ir além: cobrar imposto de empresas que levam dados da França para fora do país. E o Parlamento Europeu discute uma nova lei que impõe restrições à transferência de dados para outros países – eles precisariam receber primeiro um “Selo de Proteção de Dados”.
Índia, Indonésia e Malásia já exigem que dados de seus cidadãos sejam armazenados em servidores locais; enquanto a Coreia do Sul requer que o usuário dê consentimento explícito quando seus dados saírem do país. A China, sempre restritiva, também proíbe a transferência de dados pessoais para outro país sem consentimento explícito do usuário.
Mas será que tudo isso é eficaz para evitar espionagem? Anupam Chander e Uyen P. Le, autores do estudo, estão céticos:
- os EUA já concentram seus esforços de espionagem fora do país: a FISA (Lei para Vigilância de Inteligência Estrangeira) é focada em coletar dados no exterior, e só limita a ação caso o alvo seja americano. “Interceptar comunicações no exterior tem vantagens claras para a NSA, com restrições mais brandas e menos supervisão”, diz a agência em documento vazado;
- o uso de malware – algo que a NSA já teria feito extensamente – afeta até mesmo informações guardadas longe de servidores americanos;
- ao guardar dados localmente, os países pintam um alvo nas empresas nacionais responsáveis por isso. Espionar ficaria mais fácil, já que a NSA saberia exatamente onde procurar os dados;
- além disso, caso essas empresas tenham medidas fracas de segurança, hackeá-las não seria muito difícil.
Os autores também criticam o protecionismo de apoiar empresas nacionais barrando concorrentes mais fortes do exterior. E, no caso do Brasil, notam como isso seria dispendioso: construir um data center aqui custa US$ 61 milhões em média, contra US$ 51 milhões no Chile e US$ 43 milhões nos EUA. Além disso, para mantê-lo, seria necessário gastar US$ 950 mil mensais (nos EUA, é quase a metade). Na verdade, o Brasil é o país ocidental onde um data center custaria mais caro, devido aos impostos e ao preço da energia elétrica.
Essa fragmentação ainda pode ser um empecilho para o desenvolvimento da “internet of things” – que permite controlar gadgets através da internet – e do big data. Eles terminam o estudo com estas sábias palavras:
Os esforços para forçar o armazenamento local de dados distrai o país dos esforços para criar melhores proteções para as pessoas. Devemos insistir em proteção de dados sem protecionismo de dados. Ao criar uma internet melhor e mais segura para todos, não devemos quebrá-la em pedaços.
Tim Berners-Lee, o pai da web, certamente concordaria. Você pode ler o estudo completo neste link.
Fonte: Gizmodo
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