Cerca de 50 famílias sem-teto já se cadastraram para morar em um prédio que fica a duas quadras da Avenida Paulista
No dia 12 de junho, às vésperas do primeiro jogo do Brasil na Copa do Mundo, um prédio de 15 andares, no qual morava, há alguns anos, apenas a zeladora, foi ocupado por cerca de 150 moradores sem-teto. Ocupações se tornaram comuns em São Paulo recentemente, mas esta ação chama a atenção pelo local. A aproximadamente duas quadras da Avenida Paulista, o prédio fica na rua Pamplona, no bairro dos Jardins, área na qual os valores dos alugueis são considerados muito caros e o metro quadrado custa mais de 10 mil reais, de acordo com índices de avaliação de 2013.
Guilherme Land, um dos coordenadores do Movimento de Moradia da Região do Centro (MMRC), admite que a ocupação em uma das áreas mais caras da cidade tem um grande valor simbólico para aqueles que lutam por moradia. “No Centro de São Paulo é muito fácil você virar a cara para o que está acontecendo, porque lá tem Cracolândia, morador de rua, usuário de droga", diz Land. "Assim como se criminalizam essas pessoas, acabam sendo criminalizadas, também, as pessoas que moram em ocupação, mas aqui a gente traz o problema para um lugar no qual não dá pra esconder que ele existe.”
Uma das principais questões que envolvem a ocupação do edifício é o fato de a construção, apesar de vazia, não ter dívidas de IPTU, o que inviabilizaria a desapropriação para fins sociais, promovida pelo poder público. Para Land, no entanto, a argumentação legal não é satisfatória. “Esse prédio estava fechado, cinco ou oito anos, a gente não sabe ao certo, e não cumpria sua função social. Se ele tem dívidas ou não, especulação imobiliária é especulação. Então, a gente está aqui para dizer que um prédio está vazio enquanto tem gente dormindo na rua, e isso é absurdo e irracional.” Para morar nos apartamentos de 100 m², 50 famílias já buscaram cadastro com MMRC, o movimento responsável pela ocupação. Com dois quartos e uma sala grande, cada unidade irá comportar até três famílias.
Além de acomodar as famílias, a coordenação da ocupação quer aproveitar para criar um bom ambiente para os moradores. “Muitas ocupações acabam virando depósitos humanos. A gente quer que aqui seja um espaço de aprendizagem e cultura, que é algo que as pessoas não têm em um programa como o Minha Casa, Minha Vida.” Na ocupação são ministrados cursos de idiomas e atividades para crianças que, segundo Land, serão abertas também aos moradores de todo o bairro.
Por enquanto, não há ação judicial pedindo a desocupação do imóvel. A polícia apenas recolheu depoimentos dos moradores. “Tivemos umas três, quatro visitas de polícia, pegaram dados para colocar no relatório da ocorrência de invasão de propriedade, que é o crime que eles chamam. Também vieram ver se algo tinha acontecido à gráfica que tem aqui embaixo, se havia ocorrido algum furto.” A fato foi registrado no 78.°DP, que fica nos Jardins.
A vizinhança tem reagido de maneira diferentes. “As reações da vizinhança são diversas. Tem gente assustada e espantada, mas neste bairro existem as pessoas que trabalham aqui e as pessoas que podem pagar para morar aqui", diz Land. "As pessoas que trabalham por aqui geralmente levam 3 horas pra chegar, então, têm uma recepção bem positiva do que a gente está fazendo, isso ficou bem claro.” Segundo Land, trabalhadores da região já procuraram a ocupação para se cadastrar.
A imobiliária responsável pelo edifício informa que o prédio está à venda e que o proprietário não se manifestou.
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No vídeo abaixo, o depoimento de moradores da ocupação, como a auxiliar de limpeza Mary Jane da Conceição de Andrade e o francês Henrick Droulez, e de pessoas que pretendem morar no prédio da Rua Pamplona, como Rosiane Ferreira da Silva, que trabalha próximo da Avenida Paulista mas mora no município de Francisco Morato.
Fonte: Carta Capital
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