Os conflitos militares nunca passam sem deixar consequências para a humanidade. Muito mais as guerras mundiais, que deixam marcas na vida de várias gerações. Do restabelecimento da paz do pós-guerra nos anos 20 do século XX deveria ter sido encarregada a Sociedade das Nações (SDN).
Mas os trabalhos dessa organização foram um fiasco diplomático e não conseguiram evitar o início de novas hostilidades. Além disso, ela em muito contribuiu para o surto de sentimentos nazistas na Alemanha e, como consequência, para o início da Segunda Guerra Mundial.
No dia 28 de junho de 1919 os países da Entente assinaram em Versalhes o armistício com a Alemanha. Isso aconteceu precisamente cinco anos depois do primeiro tiro da guerra mundial: o tiro que assassinou o arquiduque austríaco Francisco Fernando. A humanidade precisou de cinco anos para atravessar todos os horrores da guerra e pensar no restabelecimento da paz. Para isso foi criada a primeira organização internacional desse gênero, a Sociedade das Nações, que anunciava com seu objetivo a garantia da segurança coletiva e a regulação diplomática das disputas entre os países.
Contudo, ela se ocupou essencialmente, não da prevenção de novos conflitos, mas da luta contra as consequências da guerra anterior, considera o investigador Dmitri Surzhik do centro de investigação Grande Guerra Patriótica de 1941-1945:
“Os fundadores da organização pensavam que não voltariam a acontecer outras guerras dessa dimensão e por isso a SDN não possuía quaisquer mecanismos efetivos de prevenção do início de novas guerras. Além disso, a Sociedade das Nações não se manifestou de uma maneira muito vigorosa durante os muitos conflitos militares que ocorreram entre as duas grandes guerras. Eles foram: a intervenção da Entente contra a Rússia Soviética, a anexação pela Polônia de territórios de países vizinhos e a agressão japonesa contra a Manchúria e a China. A Sociedade das Nações era pouco firme, e o máximo que podia fazer contra os seus membros que foram agressores era expulsá-los da organização.”
Depois de Versalhes, a tendência dominante na política externa dos países vencedores foi a humilhação de uma Alemanha vencida. Sobre ela recaiu todo o peso da culpa pelos acontecimentos e a responsabilidade material. As condições do Tratado de Versalhes obrigavam Berlim a pagar compensações aos países que dela foram vítimas. A Inglaterra e a França colocaram de fato a Alemanha num beco sem saída. As reparações de guerra incomportáveis e o orgulho nacional ferido levaram os nacional-socialistas ao poder na Alemanha, de forma perfeitamente legal.
Além disso, o restabelecimento da paz era impedido pela relação dos vencedores com seus aliados menos influentes. Foi isso que permitiu o surgimento do primeiro movimento fascista na Itália, a qual contava, sendo uma das potências vencedoras, alargar seus territórios, mas que no final não recebeu nada.
Muitos percebiam que a Europa caminhava a passos largos para uma nova guerra. Mas a diplomacia de então da Sociedade das Nações não pensava nessa perspectiva possível e só se ocupava dos assuntos correntes. A SDN não teve apenas falta de visão, mas também de força real, considera a professor da faculdade de História da Universidade Estatal de Moscou e especialista em história da Alemanha do século XX Tatiana Timofeeva:
“Depois da Primeira Guerra Mundial, as tentativas de regulação de paz se baseavam nos princípios da diplomacia do século XIX: Vae victis ou “ai dos vencidos”. Não eram considerados nem os sentimentos dos povos, nem a verdadeira situação. Não apenas na Alemanha, mas também a força da tensão revolucionária na Europa. Os vencedores queriam ser vencedores em tudo. Essas tentativas de regulação, que eram tentativas de castigar a Alemanha por ter iniciado a guerra, não foram bem concebidas.”
As disposições da SDN sobre a proteção da integridade territorial dos países e sobre o estabelecimento da paz ficaram por executar. Um ano depois do fim da Segunda Guerra Mundial ela terminou sua existência e entregou suas prerrogativas à sua sucessora – a Organização das Nações Unidas.
Fonte: Voz da Rússia
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