Os distúrbios na cidade de Ferguson confirmam a existência de problemas profundos na sociedade norte-americana, mas eles não poderão ser resolvidos sem uma correção significativa do modelo sociopolítico existente.
O impulso para os confrontos nas ruas de Ferguson (estado do Missouri) foi o assassinato do jovem afro-americano Michael Brown pelo policial Darren Wilson. Como sua justificação as autoridades declararam que Brown e seu amigo representavam perigo para a sociedade porque dez minutos antes do assassinato eles tinham assaltado uma tabacaria.
Contudo, rapidamente se descobriu que Brown foi alvejado na testa quando estava de joelhos e com os braços no ar. Em geral, os habitantes da cidade consideram o ato do policial como um abuso e um assassinato de cariz racial, tendo respondido à minoria branca com destruições e atos de desobediência civil. Desde então a atmosfera em Ferguson se tem agravado.
Entretanto os observadores referem que o motivo para esses distúrbios foi bastante trivial. Segundo dados estatísticos, hoje nos Estados Unidos os policiais matam um jovem negro com menos de 25 anos em cada 28 horas. Mas em Ferguson parece ter sido aberta mais uma úlcera do modelo sociopolítico que os norte-americanos veneram como sendo o ideal e como tal o impõem a todo o mundo.
Em rigor, os acontecimentos em Ferguson se desenvolvem de acordo com o cenário típico de uma "revolução colorida”, das que atravessaram quase todos os continentes nos últimos vinte anos. Os norte-americanos obtiveram na terra deles aquilo que tentam teimosamente impor na terra dos outros. Diz o encarregado do Ministério das Relações Exteriores da Rússia para as questões de direitos humanos, democracia e primado do direito Konstantin Dolgov:
“Os trágicos acontecimentos da cidade de Ferguson, que se seguiram ao assassinato por um policial do afro-americano desarmado Michael Brown, de 18 anos, são um testemunho visível do alto nível de tensão existente na sociedade estadunidense, a qual continua fraturada por motivos raciais. Existem, sem dúvida, manifestações muito graves de discriminação racial. Outra questão era as autoridades, até há pouco tempo, tentarem camuflar de certa forma essa realidade. Mas não se consegue esconder por muito tempo essas contradições. É evidente que a polícia recorre a um uso excessivo da força. São usados meios não do arsenal policial, mas do arsenal militar”.
Como outra das razões para as desordens dos habitantes de Ferguson é considerado o elevado nível de desemprego entre a população afro-americana. Na opinião do jornal Los Angeles Times, o assassinato de Brown apenas deu início aos desacatos que foram amadurecendo ao longo de décadas: depois do declínio industrial dos anos 80, a cidade foi abandonada pelos “colarinhos azuis”, que foram sendo substituídos por famílias afro-americanas pobres procurando melhores condições de vida. “Para a maioria da população atual de Ferguson esta cidade representa as oportunidades perdidas”, diz a publicação. Desde 2000 o nível salarial médio se reduziu em 30%, considerando a correção à inflação.
A situação é agravada por os policiais estadunidenses usarem armamento pesado como, por exemplo, blindados que eram usados em guerras no estrangeiro. Segundo declarou o presidente da associação Veterans for Peace (Veteranos pela Paz) Gerry Condon, “aquilo que se passa em Ferguson é o resultado da ideia nacional de que a repressão resolve os problemas”.
Segundo os dados das organizações não-governamentais especializadas, incluindo a União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU), as estruturas policiais utilizam, mesmo na realização de operações de rotina como rusgas, veículos blindados, gás lacrimogêneo, granadas de efeito moral, lança-foguetes, armas automáticas e semiautomáticas. Além disso, também os representantes da imprensa são vítimas da violência policial, acrescenta Konstantin Dolgov:
“Os jornalistas são fortemente atingidos. Todos os dias as autoridades atropelam a liberdade de expressão. Por enquanto não existe qualquer diálogo sério com os manifestantes. Também é difícil falar de diálogo, quando se apostou na violência. Na nossa opinião, as autoridades estadunidenses deveriam se dedicar seriamente aos grandes problemas internos que existem nos Estados Unidos, em vez de pregar os direitos humanos aos outros países e de se ingerirem nos seus assuntos soberanos usando falsos slogans de defesa dos direitos humanos”.
Os jornalistas norte-americanos escrevem sobre três pontos de viragem: o primeiro foi o próprio assassinato de Brown que revoltou Ferguson. O segundo foram as pilhagens – elas revoltaram o estado do Missouri. O terceiro ponto de viragem foi a militarização da polícia e a proibição da liberdade de imprensa – isso revoltou todo o país.
Na opinião de um dos autores, permanecendo em estado de guerra permanente, em todo o tempo de sua existência os Estados Unidos nunca foram vítimas de uma invasão militar terrestre. Os norte-americanos nunca viram tanques em suas ruas. Mas em Ferguson os policiais, vestidos como Rambos, dispersam os seus concidadãos nas ruas e ditam-lhes o que podem escrever nos jornais, como num mau filme de Hollywood em que os Estados Unidos tenham sido invadidos pelos russos. Isso prova que o país está politicamente dividido.
Tudo indica que os EUA estão vivendo uma nova etapa na sua vida política, na qual eles deverão repensar seu papel geopolítico: quem tem telhados de vidro, não atira pedras no do vizinho.
Fonte: Voz da Rússia
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