sexta-feira, 29 de agosto de 2014

ACORDO DE CESSAR-FOGO PODE AUMENTAR CHANCES DA RENAMO NA CORRIDA ELEITORAL EM MOÇAMBIQUE


Afonso Dhlakama, líder da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), principal partido de oposição e uma das partes dos conflitos armados nos últimos anos, declarou nesta quarta-feira que irá reconhecer os resultados das eleições gerais de 15 de outubro. Esta promessa vem menos de uma semana depois da assinatura, em 25 de agosto, do acordo de cessar-fogo entre a Renamo e a Frelimo.

“Com certeza aceitaremos os resultados. Foi por isso que andamos lutando por uma lei credível, para permitir que as eleições sejam transparentes”, cita a Angop as palavras de Dhlakama, que acrescentou que o seu partido “seria o primeiro a reconhecer a derrota” caso percam as eleições.

E isso, é bastante possível. Segundo uma pesquisa de opinião pública realizada pela Universidade “A Politécnica”, cujos resultados foram divulgados pela mídia moçambicana, Dhlakama e o seu partido são os candidatos menos populares em centros urbanos. Ultrapassam-no Filipe Nyussi, do já tradicional Frelimo, e Daviz Simango, do Movimento Democrático de Moçambique. Observa-se uma tendência interessante: se Nyussi gira, geralmente, em torno dos 50% e mais das intenções de voto, Simango não alcança a metade.

Porém, agora, com o cessar-fogo, a situação pode mudar a favor de Dhlakama e da Renamo. Eles optaram por apresentar a sua face boa, abandonando o conflito armado para garantir um clima se não pacífico, pelo menos moderado.

Aliás, segundo a edição MMO Notícias, tanto a Renamo como a Frelimo concordam que o acordo “marca uma nova era” na história política do país. Porém, o partido opositor cessou o fogo, mas não a polêmica, instando Armando Guebuza a não usar o exército contra civis e adversários políticos.

Também, a Renamo insiste que a declaração conjunta do cessar-fogo deve passar pela Assembleia da República para ter força jurídica de um acordo reconhecido.

Criando autoestima dos moçambicanos

No entanto, o jornal moçambicano A Verdade divulgou a íntegra do discurso do presidente, Armando Guebuza, pronunciado no parlamento no dia 22 de agosto. Nele, o mandatário terminante examina o desempenho do seu mandato em relação a dez desafios. São eles: “elevação da autoestima do moçambicano”, “consolidação da Unidade Nacional, da Paz e da Reconciliação Nacional”, “formação do capital humano”, “luta contra a fome e a doença”, “promoção do bem-estar da juventude”, “combate aos obstáculos ao nosso desenvolvimento”, “construção e reabilitação das infraestruturas sociais e econômicas”, “viabilização do distrito como polo de desenvolvimento”, “reforço dos determinantes do Estado de Direito Democrático em Moçambique” e “reforço da cooperação internacional”.

Chama a atenção, aqui, o primeiro ponto desta agenda do passado, a autoestima. Segundo o presidente, um dos principais êxitos nesta área é constituído pelo retorno da retórica popular de “Pátria Amada”, “Pérola do Índico” e “Pátria de Heróis”, expressões que ele próprio usa neste mesmo discurso. Outro avanço é a criação da marca “Made in Mozambique”. Trata-se do auge do patriotismo cultural e econômico, herança talvez do pós-colonialismo.

E terminando essa parte do seu discurso, ele frisa: “Em muitos cantos e encantos dessa Pérola do Índico, muitos compatriotas de cidadãos anônimos, com visão ofuscada pelo espírito de mão-estendida e pelo hábito de culpar terceiros pela sua situação, tornaram-se empreendedores, com autoestima, determinação e clareza de que vão e estão vencendo a sua pobreza e criando o seu bem-estar e a melhorar as condições de vida de outros moçambicanos”. Tomara que assim seja.

Quanto à infraestrutura, surgiu nesta semana uma boa notícia: que a partir da quarta-feira (27), fica desativada a escolta obrigatória das Forças de Defesa e Segurança que acompanhava a coluna de viaturas em um troço da Estrada N1. O trecho compreendido entre o posto administrativo de Muxúnguè e a Vila Franca do Save já tem circulação livre, informa a Folha de Maputo. Porém, unidades das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) ainda estarão presentes para monitorar a situação em vários locais.

Já a cooperação internacional, indispensável para fazer um país “polo de desenvolvimento”, parece que ganhou também com a declaração do cessar-fogo. Durante uma audiência com Armando Guebuza, o vice-ministro para o Desenvolvimento Econômico da Itália, Carlo Calenda, disse que o país europeu pretende abrir um centro de negócios e alargar parcerias com o país africano, porém isso, na esperança da estabilidade política e na continuação da política da paz interna.

Também, um acordo internacional entre Moçambique e Portugal foi assinado nesta quinta-feira durante a visita de uma delegação lusa à Feira Internacional de Maputo (FACIM). O documento, assinado pelo secretário de Estado da Alimentação português, Nuno Vieira e Pinto, trata de levantamento de barreiras à exportação de produtos moçambicanos para Portugal e de apoio nas áreas fitossanitária e veterinária, informa Maputo Digital.

Fonte: Voz da Rússia

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