Até 2016, Angola poderá ultrapassar a África do Sul e tornar-se a maior economia africana, de acordo com um relatório do Economist Intelligence Unit.
Desde 2002, quando a guerra civil terminou no país, este passou a estar entre os que mais crescem no mundo. Até 2008, Angola registrou um crescimento da ordem dos 13% ao ano. Este ano, os valores serão mais baixos (5-7%) mas, mesmo assim, muito à frente dos países europeus.
O setor dos serviços bancários é um bom exemplo. O número de cartões de crédito e débito concedidos aumentou este ano 16%, a rede de Caixas Automáticos (ATM) e Terminais de Pagamento Automático (TPA) teve um crescimento de 24% e 29% respetivamente. A concessão de crédito subiu 26% e a captação de depósitos 9%.
O país tem investido na construção de estradas e portos, de escolas e hospitais. O motor de tudo isto é o pujante setor petrolífero, que garante receitas estáveis e permite à sua nova classe empresarial afirmar-se quer no país, quer no estrangeiro. A crescente prosperidade angolana, embora não beneficie de maneira nenhuma toda a população, grande percentagem da qual vive na pobreza, tem permitido fazer grandes investimentos também fora do país, nomeadamente na Europa.
O fator chinês
A China, uma das mais dinâmicas potências emergentes, tem vindo progressivamente a ocupar o lugar dos EUA e a Europa no comércio e na cooperação com os países africanos, em especial com os maiores produtores de matéria-prima, entre os quais Angola. A República Popular da China tem sido o grande motor do desenvolvimento angolano após o fim da guerra. A partir de 2004, a China começa a desenvolver grandes obras de construção civil, enquadradas no vasto Programa angolano de Reconstrução Nacional (especialmente modernização e construção de estradas e equipamentos sociais).
As construtoras chinesas tornam-se competitivas devido ao acesso a capital barato, ao apoio político de Pequim, ao baixo custo da sua mão-de-obra e dos materiais de construção. Entre os pontos fracos das empresas chinesas está o fato de os trabalhadores chineses não falarem português fluentemente e terem dificuldades de adaptação à vida local. No país, vivem atualmente 259.000 trabalhadores chineses.
Os empréstimos dos bancos chineses têm tido um lugar importante no envolvimento chinês neste país africano. O Banco de Desenvolvimento da China, o principal braço financeiro do Executivo chinês, considera Angola "um dos principais parceiros".
Angola também tem tido vantagens em cooperar com a China, em comparação com a colaboração com os países ocidentais. Estes expressam frequentemente preocupações pelo nível de corrupção, a existência de apenas dois decisores políticos – o presidente da República e o MPLA – que controlam todos os setores estratégicos da economia, e, por último, a excessiva dependência da economia face ao petróleo.
Já a política externa da China é baseada nos princípios de coexistência pacífica, na qual uma das regras é justamente a da “não interferência” nos assuntos internos de cada Estado. Os chineses em Angola não impõem nenhumas condições políticas ou tomada de medidas econômicas, o que aconteceria se o país recorresse do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial. A “não-interferência” é a principal diferença do discurso chinês em relação ao discurso ocidental.
Mesmo assim, no país, começa a haver desagrado face à excessiva dependência das autoridades angolanas relativamente aos créditos da China.
Sabe-se que os dois países são interdependentes. Angola foi, com efeito, o segundo maior fornecedor de petróleo da China nos primeiros meses deste ano, tendo exportado para a potência asiática cerca de 860 mil barris de petróleo diariamente, o equivalente a cerca de 50% da produção nacional nesse período.
O fator português
Portugal acolhe variados investimentos da sua antiga colônia, numa altura em que o dinheiro escasseia na Europa.
Os angolanos são os investidores estrangeiros com maior peso na bolsa de valores portuguesa. O conjunto das suas ações atinge cerca de 2,8 bilhões de euros, sem contar com muitas outras empresas onde têm interesses.
Entre os empresários angolanos que possuem negócios em Portugal, nomeadamente participações em grandes empresas portuguesas, há a destacar Isabel dos Santos, a filha mais velha do presidente angolano, considerada a mulher mais rica de África (telecomunicações, banca, energia); António Mosquito (construção civil, mídia); Lopo do Nascimento (engenharia e ambiente): Manuel Vieira Dias (banca, vinicultura); Álvaro Sobrinho (banca, mídia, agroalimentar); Tchisé dos Santos, outra filha do presidente angolano (agroalimentar). Para além disso, a Sonangol é o maior acionista do banco português BCP e tem participação na Amorim Energia.
Angola está, por outro lado, a ser um "balão de oxigênio" para as exportações portuguesas, a tentar recuperar da depressão.
O mercado angolano é bastante apetecível para as empresas portuguesas e para os portugueses que pensam em emigrar. As exportações portuguesas para Angola totalizaram 2.998 milhões de dólares no ano passado. Entre as grandes empresas portuguesas presentes em Angola refira-se a Sonae (distribuição alimentar, telecomunicações), a Visabeira (telecomunicações, construção, energia), a o grupo hoteleiro Sana, a Amorim Turismo, o grupo bancário CGD/Santander Totta, as construtoras Teixeira Duarte e Mota Engil, para além dos bancos BES e BPI.
A emigração para o antigo território ultramarino português tem crescido exponencialmente nos últimos anos. Só no ano passado, numa população total de apenas 10 milhões, mais de 23 mil portugueses foram para lá viver. Calcula-se que hoje residam em Angola cerca de 200.000 portugueses, ocupados nas mais diversas áreas.
Emigram, na sua maioria, trabalhadores qualificados (engenheiros, outros quadros técnicos, pequenos empresários, jovens acabados de formar nas universidades, etc.). Muitos deles fogem à excessiva carga fiscal em Portugal e criam em Angola pequenas empresas. Embora haja muitas carências básicas no país, quase todos se dizem satisfeitos com a opção feita, lamentando a falta de oportunidades no continente.
Recentemente, um escândalo veio perturbar as boas relações econômicas e políticas entre Angola e Portugal. O Ministério Público português está investigando vários altos responsáveis angolanos por lavagem de dinheiro. Entre eles estão Manuel Vicente, vice-presidente e ministro de Estado e da Coordenação Econômica de Angola; general Kopelika, chefe da Casa Militar do presidente José Eduardo dos Santos, e João Maria de Sousa, procurador-geral de Angola. Embora o ministro dos Negócios Estrangeiros português, Rui Machete, tenha desdramatizado a situação e o primeiro-ministro português já se tenha desculpado, o escândalo levou ao arrefecimento brusco das relações entre os dois países. Há quem diga que o processo será arquivado mas certezas disso não há.
Como conclusão, diríamos que, não obstante a incipiente democracia, a grande desigualdade e um dos últimos lugares no relatório "Facilidade de fazer negócios", do Banco Mundial, Angola continua a crescer. Para a sua nova prosperidade muito contribui quer o pragmatismo "não interferente" dos empresários chineses, quer a proximidade cultural e capacidade de adaptação dos empresários e trabalhadores portugueses. O país só terá a ganhar tanto com uns, como com outros.
Fonte: Voz da Rússia
Segue o link do Canal no YouTube e o Blog
Gostaria de adicionar uma sugestão, colabore com o NÃO QUESTIONE
Este Blog tem finalidade informativa. Sendo assim, em plena vigência do Estado Democrático de Direito, exercita-se das prerrogativas constantes dos incisos IV e IX, do artigo 5º, da Constituição Federal. Relembrando os referidos textos constitucionais, verifica-se: “é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato" (inciso IV) e "é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença" (inciso IX). As imagens contidas nesse blog foram retiradas da Internet. Caso os autores ou detentores dos direitos das mesmas se sintam lesados, favor entrar em contato.
Nenhum comentário:
Postar um comentário