Os acontecimentos no Sudeste da Ucrânia após o reinício da “operação antiterrorista” voltaram a demonstrar a incapacidade de Kiev de encarar a realidade sob o prisma objetivo e reconhecer um postulado: é impossível alcançar vitória sobre o povo.
Como era de esperar, as asseverações do presidente Poroshenko de que as armas não seriam viradas contra bairros residenciais e seus habitantes – mulheres, crianças e pessoas idosas – não passaram de palavras vãs. Ou por falta de experiência no manejo de armas pesadas, ou por erros dos serviços de reconhecimento militar, ou por má intenção e dolo, a verdade é que as tropas estão realizando ataques aéreos e de artilharia terrestre precisamente contra bairros residenciais e povoações do Sudeste.
A mídia ucraniana não deixa de informar sobre o aniquilamento de “centenas de separatistas pró-russos e terroristas” e suas bases de apoio. Mas os vídeos filmados “in loco” mostram que são cidadãos indefesos que, como antes, se tornam vítimas dos ataques militares e não os “terroristas armados”.
Em algumas vilas foram destruídas ruas inteiras de casas particulares. Nas últimas 24 horas foram demolidas empresas, escolas e hospitais. O número de vítimas civis já se estima em dezenas e centenas de pessoas inocentes. Os repórteres do periódico britânico Daily Mail reconhecem que semelhante tática vitoriosa de “terra queimada” tinha sido aplicada pelo Exército hitleriano nos anos da Segunda Guerra Mundial.
Entretanto, a perspetiva de uma vitória sobre a resistência popular se mantém bem vaga apesar de Kiev ter concentrado, no período de trégua, um contingente militar de 45 mil efetivos, 400 peças de artilharia e lança-granadas, 150 carros de combate e dezenas de sistemas de artilharia de fogo simultâneo. No parecer de analistas que citam dados do Ministério da Defesa, as munições que sobraram poderão chegar para serem usadas num prazo máximo de 10 dias.
Cerca de 8 pilotos ucranianos em serviço ativo se recusam a efectuar voos perante um perigo de se tornarem alvos da bastante eficiente defesa antiaérea dos milicianos. Nos últimos dois dias, a Força Aérea perdeu no mínimo dois aviões de assalto. As tropas terrestres, compostas por mancebos recrutados e antigos elementos criminosos, também não querem ir para a guerra civil.
Os narcóticos e as bebidas alcoólicas não são capazes de elevar o espírito combativo. Os soldados carecem de alimentos e os feridos têm de se curar por conta própria. Mesmo os voluntários “patriotas” que, depois de acreditar em invencionices da mídia sobre a “agressão russa” chegaram ao local dos combates, descobrem que têm de travar a guerra contra a população local.
O fogo de artilharia e bombardeios vão aumentando o ódio em relação aos militares e ao presidente que os enviou para a guerra contra o seu povo. Por isso, o número de milicianos vai crescendo.
É óbvio que o problema do Sudeste poderá ser resolvido somente através conversações. Parece que Poroshenko compreende isso. Não é por acaso que depois da retomada da operação punitiva ele se declarou favorável à possibilidade de um cessar-fogo.
Mais uma tentativa de sair da crise foi uma reunião extraordinária dos chanceleres da Alemanha, França, Rússia e Ucrânia que decorreu em Berlim em 2 de julho. A Alemanha a França se solidarizaram com a iniciativa russa de enviar aos seus postos de controle fronteiriço observadores da OSCE que, deste modo, poderão se convencer de que a fronteira tem sido atravessada por centenas de refugiados e não por tanques russos e alegados terroristas. Mas isso poderá ser realizado depois da suspensão das hostilidades, anunciou o chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov. Apelou ainda a que Kiev se apresse a declarar um armistício pelo que “cada dia de delongas e protelações pode custar a vida de dezenas de pessoas”.
Fonte: Voz da Rússia
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