O novo round da briga entre o Wikileaks e os Estados Unidos acontece no cinema. A Disney acaba de anunciar o lançamento do filme “O Quinto Poder” — uma cinebiografia de Assange. Lançado em 5 de setembro no Festival de Toronto, o filme tem estréia marcada no Brasil para 25 de outubro.
“O Quinto Poder” contou com a tolerância discreta do Wikileaks e de Assange, mas a produção do filme e a edição final estão cercadas de polêmicas. Para começar, é baseado no livro escrito por Daniel Domscheit-Berg, que foi braço direito de Assange, mas com quem acabou rompendo relações. Tudo bem: Domscheit-Berg teve um papel importante no Wikileaks até 2010.
O ator escolhido para interpretar o papel de Assange, o britânico Benedict Cumberbatch e que explicitamente apóia o Wikileaks, conta que recebeu o pedido do próprio Assange para não aceitar o trabalho. “Não vai acrescentar em nada à nossa causa”, teria lhe dito o jornalista australiano.
Mas no final das contas o filme saiu, contando a história de como Assange revelou documentos secretos norte-americanos e até mesmo mostrando algumas cenas picantes — afinal, o grande problema de Assange, no momento, é um processo de abuso sexual na Suécia.
Agora, às vésperas do lançamento mundial do filme, o Wikileaks divulgou um documento interno sobre a produção, bem à sua maneira — como um vazamento de informações. Nele há os pontos com os quais a organização não concorda. Entre eles, deixa claro que, apesar de o filme abordar o ano de 2010, não menciona algumas das mais importantes revelações feitas pela Wikileaks nesse ano — como a “lista negra” e o esquadrão da morte americano da guerra do Afeganistão, as torturas promovidas por autoridades americanas que ocupavam o Iraque e as tentativas do governo americano de promover golpes na Tunísia e em outros países do Oriente Médio.
O documento também lamenta o fato de que as cenas previstas para serem rodadas no Irã tenham sido transferidas para a Líbia. Pior: “‘O Quinto Poder’ dá a entender, falsamente, que o Wikileaks prejudicou 2 mil informantes do governo dos EUA, o que nem o próprio governo americano sustenta. Essa é uma maneira pela qual os opositores do Wikileaks procuram distrair a opinião pública sobre a verdade exposta pelas informações secretas que foram publicadas”, diz o documento. “As pessoas não devem assistir ao filme acreditando se tratar de um documento histórico sobre o Wikileaks”.
O documento ainda lamenta a postura do diretor do filme, Bill Condon — que teria pedido ao ator Benedict Cumberbatch para representar Assange como um “megalomaníaco anti-social” e uma espécie de “vilão de histórias em quadrinho”. Além disso, referindo-se ao livro de Daniel Domscheit-Berg, acusa o filme de dar apenas “um lado da história”, de “ser parcial” e de usar informações que “já se tornaram obsoletas”.
É inegável que a organização não ficou nem um pouco satisfeita com o resultado final e procura deixar claro ao público que o filme não tem nada a ver com o trabalho do Wikileaks. “A multimilionária produção cinematográfica não se comprometeu a ajudar financeiramente nossa instituição ou qualquer fundo de defesa ao cidadão”. A Disney, claro, nega todas as acusações de que tenha feito um filme para detonar Assange. Mas, se alguém duvidava de suas intenções, basta dar uma olhada no pôster de divulgação: a imagem de Benedict Cumberbatch sob a palavra “traidor”. It’s all show business.
Fonte: Anonymous Brasil
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