quinta-feira, 21 de novembro de 2013

DEZEMBRISTAS RUSSOS NO AGITADO BRASIL DO INÍCIO DO SÉCULO XIX


Pelo menos quatro oficiais da Marinha russos, futuros dezembristas, estiveram no Brasil e deixaram testemunhos da influência exercida pelo que viram na sua forma de pensar.

O nome de dezembristas advém do fato de eles terem tentado, a 26 de dezembro, derrubar o imperador Nicolau I e instaurar um sistema liberal na Rússia, à semelhança do que ocorrera em vários países da Europa e no Brasil.

O oficial da Marinha russa Konstantin Torson, figura de destaque no movimento dezembrista, declarou ao Comitê de Investigação, criado para julgar os participantes da fracassada revolta:

“Em 1817, estive pela primeira vez em França; depois, em 1819, 1820, 1821, em Inglaterra, Brasil, Portugal. Nesses lugares, prestei particular atenção a todos os assuntos que diziam respeito à armada, ao mesmo tempo que, como é natural, observei também as instituições civis. Dedicando-me e gostando particularmente do serviço marítimo, eu comparava o estado das armadas estrangeiras com a nossa; preocupado em ser útil à pátria, agia de todas as formas em prol do bem comum, de forma direta e legal, vendo em tudo um andamento das coisas completamente contrário; sentindo, por experiência própria, a impossibilidade de ser útil e sentindo uma injustiça descarada, as minhas ideias foram levadas ao ponto de ingressar na sociedade”.

Konstantin Torson concretiza as razões que o levaram a aderir à sociedade secreta: “Vendo diferentes abusos e o desinteresse do governo em emendá-los por via legal, agindo individualmente, convenci-me da necessidade de agir em sociedade para conseguir esse objetivo; então Bestuzhev informou-me de que existe uma sociedade secreta, cujo objetivo consiste em, após reunir pormenores de abusos e baseando-se na defesa do direito de propriedade e de cada pessoa, elaborar um plano para emendá-los e esperar a morte natural do defunto imperador, informar de tudo o sucessor quando da coroação e convencê-lo a tomar as medidas propostas; considerando o objetivo da sociedade em conformidade com os meus desejos e tendo visto no Brasil um exemplo..., eu perguntei a Bestuzhev sobre as principais pessoas que dirigiam a sociedade”.

É de assinalar que Konstantin Torson participou na expedição naval russa, comandada por Fabian Gottlieb Thaddeus von Bellingshausen, que descobriu a Antártida.

Nessa mesma expedição participou Dmitri Zavalishin que escreveu nas suas memórias: “No Brasil, tinha muitas tarefas para realizar, mas eu queria, obrigatoriamente, conhecer de mais perto a natureza tropical, que surpreendia mesmo as pessoas simples. Aprofundei-me nas florestas virgens, visitei frequentemente o imperador Dom Pedro Corcovado e Serra de Estrela e, por fim, a nova plantação do nosso cônsul-geral Langsdorff, e só eu de todos os oficiais podia acompanhá-lo nas excursões botânicas, porque aguentava tão bem o frio forte, como o calor intenso”.

Zavalishin conta um fato curioso que poderia ter consequências negativas na sua carreira militar: “Durante a nossa estadia no Brasil, deu-se um acontecimento que assustou fortemente os meus parentes com boatos infundados. É preciso dizer que, quando chegamos ao Brasil, nós encontramos aí, no lugar de uma colônia portuguesa, um Império recentemente criado. Porém, o novo imperador não era ainda reconhecido por nenhum governo e, por conseguinte, não podíamos ter com ele contatos oficiais. Isso, todavia, não incomodava a prestação de serviços mútuos e, como realizávamos alguns trabalhos no estaleiro brasileiro, nós, pelo nosso lado, tínhamos de fornecer os nossos mestres.

Nessa altura, Dom Pedro tinha pressa em armar a frota para rechaçar o presumível ataque dos portugueses e, diariamente, encontrava-se e conversava comigo no estaleiro. Ele tinha falta de bons oficiais navais e, pouco tempo antes, o tenente da armada inglesa Taylor passara ao seu serviço como comandante de corveta. Vendo o destaque de que eu gozava na fragata, Dom Pedro decidiu propor-me o mesmo posto de Taylor na frota brasileira. Claro que eu recusei, mas o caso tornou-se conhecido e, tendo chegado de forma distorcida à Rússia, preocupou os meus parentes, enquanto as cartas enviadas por mim não lhes esclareceu o que realmente deu origem ao boato, como se eu tivesse deixado a frota russa”.

Mas não era só a paisagem exótica tropical que interessava ao oficial da Marinha russa. Dmitri Zavalishin estudou também com atenção a situação política e social naquele território que pouco antes se tornara independente da Coroa de Portugal:

“A nossa permanência no Brasil tinha interesse vivo não só do ponto de vista do conhecimento de uma natureza completamente nova para nós, mas também no sentido político. Todas as questões políticas, internacionais e internas, bem como as sociais eram candentes e a situação do Brasil apresentava muitos fatos evidentes para esclarecer essas questões, e a presença de um grande número de estrangeiros, bem como de navios militares de diferentes nações, permitia ouvir a discussão multilateral de qualquer fenômeno.

Por muito que estivesse ocupado no meu serviço, não só com a carga e os fornecimentos para a fragata, mas também com as viagens às plantações para fazer compras, eu não perdia, porém, a oportunidade de conhecer pormenorizadamente a natureza e diferentes produções, principalmente as próprias do Brasil, e seguir o movimento político e social.

E se o conhecimento com o cônsul-geral e a excursão com ele eram para mim úteis do ponto de vista científico, para o estudo da natureza tropical, as visitas ao nosso vice-cônsul, casado com uma brasileira e que vivia de forma muito aberta, constituíram uma oportunidade suprema de observar os problemas políticos e sociais no seu movimento vivo.

Todos os dias, quando o calor era forte, entre as 10 e as 4 horas, quando toda a atividade parava e todas as coisas paravam, todos dormem, eu refugiava-me nos limoeiros e laranjeiras no Corcovado e dedicava-me aí à leitura de jornais de todo o tipo, – e, a falar verdade, era difícil aos outros compreender quando eu dormia, porque às seis ou tínhamos o jantar ou nós éramos convidados para os jantares que nos davam ou na cidade, ou em navios estrangeiros, e, ao jantar, até bem depois da meia noite, havia algum baile ou passeio, não obstante, na manhã seguinte, às sete horas, eu já recebia em terra ou no escritório do cônsul ou no estaleiro todos os que tinham algum assunto ligado à expedição”.

Fonte: Voz da Rússia

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