sexta-feira, 22 de novembro de 2013

NÃO QUERO VIVER SEQUESTRADA


No ano 250 d.C., houve uma terrível onda de destruição que assolou o território do atual Portugal. A culpa foi atribuída por alguns historiadores a hordas de vândalos invasores vindos no norte da Europa. No entanto, segundo outros, a devastação foi obra da população local.

O alvo da fúria popular eram os romanos, que controlavam os centros de decisão da economia, tratando com extrema dureza os escravos e trabalhadores assalariados. A insurreição teve como causa não apenas o ressentimento em relação aos romanos mas a percepção das injustiças econômicas e sociais por parte dos recém-convertidos ao Cristianismo.

Passados tantos séculos, o que sinto hoje nas ruas do meu país não é muito diferente. Há uma imensa revolta, mesmo que a televisão vá anestesiando as pessoas com palavras pouco compreensíveis como “resgate”, "austeridades", “ajustamento”, “orçamento”, “maturidades”, “défice”, palavras que já me causam náuseas.

Sim, também eu acreditei em 2011 que devíamos mudar as coisas, tornar o Estado mais pequeno, as empresas públicas mais eficientes… Mas enganaram-me: o que estão a fazer agora não é o que prometeram. Vieram para cá uns senhores do FMI, que emprestam dinheiro com juros de agiotas e, pouco contentes de receberem os seus lucros, obrigam-nos a despedir milhares de professores, a reduzir hospitais e maternidades, a cortar salários e pensões, a abolir abonos de família às crianças e bolsas aos estudantes, a aumentar impostos.

Se a população já tinha alguma esperança de se assemelhar a um país europeu quanto ao bem-estar, agora tudo isso ruiu.

Quem chamou estes senhores do FMI e da Europa? Não, não foi o Governo, foram os bancos, porque são os bancos que nos governam. Não temos democracia, temos bancocracia. Foram os bancos portugueses que, impedidos de ir buscar dinheiro à Europa, convenceram o Governo a chamar a troika, essa odiosa entidade que diz estar a fazer um “resgate” mas que, no fundo, está criminosamente a fazer um sequestro, a manter-nos todos sequestrados. Ninguém espera felicidade do FMI. Mas não deve ser um senhor etíope Selassie nem um senhor indiano Lall que nos vêm ensinar o que fazer com as nossas escolas e hospitais. Não são os banqueiros que devem decidir o destino dos funcionários públicos, milhares dos quais já foram despedidos.

Sim, aos credores não se pode permitir tudo. Não se pode permitir que nos façam retroceder no desenvolvimento que já tínhamos alcançado. De quem é a culpa de o dinheiro ter corrido a rodos nas décadas anteriores? De quem é a culpa de os bancos arranjarem dinheiro a 1% e emprestarem a 6%? Quem disse para gastar à vontade quando entrámos na União Europeia? Quem mandou acabar com a nossa indústria, agricultura e pescas? Foram os que mandam na Europa, não foi o povo português.

E agora, que já somos um protetorado, o dinheiro “emprestado aos sequestrados” vai primeiro para salvar os bancos e pagar os juros. Os juros são de tal maneira grandes que, para os pagar, se despedem milhares de professores, se deixam famílias na pobreza, se forçam milhares à emigração. Os bancos nunca ficam a perder, são “recapitalizados”. E eu? Se não tiver dinheiro para alimentar os meus filhos, o que faço?

Quase me parece que, nos “bons” tempos, os bancos fazem de propósito para emprestar dinheiro aos Governos. É com essas operações que eles “fabricam” dinheiro. Quais vendedores de droga, deixam os Governos dependentes, num círculo vicioso interminável. Para o FMI é mais fácil que o país não tenha professores nem médicos: o que importa é que haja dinheiro para pagar os juros.

Recuso-me a viver assim: quero viver em democracia, num país justo que se preocupa com a população e não com os bancos. Não quero viver sequestrada.

Não sei se continuaremos calados e subservientes perante estes senhores que nos manobram. Mas uma coisa é certa: eles não estão livres de uma fúria popular como aquela que aconteceu aos romanos no século III.

Fonte: Voz da Rússia

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