segunda-feira, 23 de setembro de 2013

LAVROV: "NOSSOS PARCEIROS NORTE-AMERICANOS COMEÇAM A CHANTAGEAR-NOS"


Os EUA estão tentando "chantagear" abertamente a Rússia, impor a Moscou e a toda a comunidade mundial um plano de regularização síria completamente virado do avesso. Isto foi dito hoje (22) em Moscou pelo ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov.

A posição do Ocidente em relação à questão síria está profundamente politizada e visa o objetivo de demonstrar a "sua superioridade", bem como a possibilidade de "vir a mandar no Oriente Médio".

Isto não tem nada a ver com a resolução da crise síria ou a liquidação das armas químicas na Síria, constata Serguei Lavrov. Está na hora de perceber, acrescentou o ministro, que o mundo há muito que é policêntrico e que é inadmissível a determinados países imporem a sua visão como sendo a única válida.

O chefe da diplomacia russa, que usa habitualmente um tom contido e correto, fez pela primeira vez declarações duras em relação à posição dos países ocidentais. O ministro falava em entrevista ao primeiro canal da TV russa, na véspera da sua partida para Nova York, onde participará em mais uma sessão da Assembleia Geral da ONU. O tom das palavras de Lavrov mostra as enormes divergências existentes entre a Rússia e China, por um lado, e os EUA, Paris e Londres, por outro, quanto à questão síria.

A próxima semana na ONU será a "semana ministerial". Serguei Lavrov deverá realizar conversações com o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, e efetuar dezenas de outros encontros de alto nível. Após a reunião trilateral entre Lavrov, Kerry e Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU, poderá ser anunciada a data da nova conferência sobre a regularização da situação, já designada Genebra 2.

A manipulação em torno do último relatório dos inspetores da ONU sobre as armas químicas mostram que o Ocidente, verdadeiramente, não precisava de nenhum relatório, disse Serguei Lavrov.

"A França e os EUA não escondiam que não precisavam de nenhum relatório. Antes de este ser elaborado e publicado, eles declararam que já sabiam de tudo há muito e que os seus dados dos serviços secretos são irrefutáveis, embora nunca tenham chegado a mostrarem-nos. Aquilo que mostraram não nos convence de que o episódio tenha estado relacionado com a utilização de armas químicas."

Serguei Lavrov recordou que, ainda antes da investigação do incidente de 21 de agosto próximo de Damasco, surgiu na mídia norte-americana uma carta aberta de veteranos da CIA e do Pentágono ao presidente Barack Obama. Nela era dito abertamente que o "ataque químico" foi uma provocação. Lavrov referia-se à carta dos veteranos de 8 de setembro. De acordo com os seus autores, o atual diretor da CIA, John Brennan, tenta repetir o cenário iraquiano, induzindo o Congresso e a opinião pública premeditadamente em erro. As autoridades de Damasco, afirmam os veteranos norte-americanos, com base em dados de reconhecimento britânicos, não tiveram relação com o ataque químico. Ora, esta carta aberta foi simplesmente ignorada.

Com base numa interpretação incorreta do relatório sobre o incidente de 23 de agosto nos arredores de Damasco, disse Lavrov, os EUA começaram a fazer pressão na Rússia e em toda a comunidade mundial, tentando impor a sua visão das coisas:

"Os nossos parceiros americanos começaram a chantagear-nos: se a Rússia no Conselho de Segurança da ONU não aprovar a resolução de acordo com o capítulo VII, suspenderemos o trabalho na Organização para a Proibição das Armas Químicas em Haia. Isto é um completo desvio daquilo que acordámos com John Kerry: primeiro a decisão da Organização para a Proibição das Armas Químicas e só depois, em seu apoio, uma resolução do Conselho de Segurança da ONU, mas não quanto ao capítulo VII."

De acordo com o diplomata russo, o Ocidente vê nos acordos russo-americanos de 14 de setembro (sobre a colocação das armas químicas sírias sob controle internacional) não uma possibilidade de libertar o planeta de uma considerável quantidade de armas químicas, mas "uma possibilidade de fazer aquilo que a Rússia e a China antes não lhes permitiram fazer, ou seja, fazer passar uma resolução orientada contra o regime de Assad, "branqueando" a oposição, culpando Assad de tudo e, desta forma, abrindo a porta a uma solução militar".

"Eles (o Ocidente) não podem reconhecer que se enganaram mais uma vez: tal como se enganaram na Líbia, destruindo o país e colocando-o à beira da desintegração: tal como se enganaram no Iraque, fazendo o mesmo, realizando uma operação terrestre e deixando o país numa situação gravíssima, onde todos os dias morrem pessoas devido a atentados à bomba. Disto já ninguém se recorda. Todos falam apenas de que Bashar Assad deve abandonar o poder. Agora o fato de uma série de conhecidas ações ter levado à catástrofe na região, naturalmente que eles não têm interesse em falar disso."

O ministro das Relações Exteriores da Rússia recordou que dois terços dos combatentes da oposição são jihadistas e o seu objetivo é criar um califado islâmico na Síria. Isto pode ser uma catástrofe para toda a região.

Serguei Lavrov criticou ainda as tentativas de apresentar a Rússia como a única parte responsável pela liquidação das armas químicas sírias.

"Gostaria de sublinhar que nós não somos garantes do desarmamento químico na Síria. Nós garantimos a adesão da Síria à Convenção sobre a Proibição das Armas Químicas sem quaisquer condições – ao contrário dos americanos, que aderiram à Convenção com condições. Agora, a Síria é parte deste documento juridicamente vinculativo. Por isso, o garante do cumprimento pela Síria das suas obrigações no que respeita a esta Convenção é toda a comunidade internacional, neste caso, a OPAQ."

Serguei Lavrov disse ainda que, na sua opinião, não é necessário enviar forças internacionais para a Síria a fim de efetuar a destruição das armas químicas. Bastará enviar algumas unidades policiais para garantir a proteção dos inspetores da OPAQ. A Rússia está pronta a fazê-lo.

Fonte: Voz da Rússia

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