terça-feira, 10 de junho de 2014

BRASIL: O CATADOR DE LIXO QUE VIROU MÉDICO

De lixeiro a médico: estudando e se alimentando com o que os outros descartavam, Cícero Batista vence a fome e a pobreza e se forma em medicina

Ele nasceu pobre, passou fome e catou lixo pra sobreviver, mas nunca desistiu do sonho de ser médico. Das latas de lixo, o brasiliense Cícero Batista Pereira, 33 anos, recolhia as verduras e os livros.

Com o que os outros descartavam, ele se alimentava e estudava: cursou o ensino fundamental e desenvolveu o interesse pela ciência com livros jogados e doados.

Na adolescência, fez curso técnico em enfermagem e teve a certeza de que a área de saúde era o caminho dele.
Superação

Na última sexta-feira o resultado de todo esse esforço: Cícero finalmente recebeu seu diploma de medicina.

Médico formado, e pronto para cuidar das pessoas, ele lembra que vasculhava as prateleiras do projeto Biblioteca Popular, do Açougue Cultural – que tem livros nas paradas de ônibus de Brasília – em busca de títulos que o ajudassem na preparação para o vestibular.

O hábito se manteve na graduação.

O ex-catador, nove irmãos e a mãe moravam na Nova QNL, o Chaparral, entre Taguatinga e Ceilândia, a 30km de Brasília. Eles percorriam os contêineres de supermercados e verdurarias da cidade para abastecer a casa.

No horário contrário ao das aulas, Cícero também vigiava carros em busca de trocados para colaborar com o sustento.“Se a gente não comia, não tinha como estudar”, contou ele ao jornal Correio Braziliense.
A descoberta

Um dia, Cícero encontrou uma câmera fotográfica Polaroid em meio a sacolas e restos de refeições. Curioso com o equipamento, levou-o para casa e, então, descobriu que gostava daquilo.

“Naquela noite, peguei a lente e fiquei observando piolhos. Então, lembrei que tinha visto na escola que o piolho é um artrópode, assim como as aranhas. Isso estimulou a minha vontade de saber mais sobre ciência”, conta.

A partir das lições sobre animais, o rapaz se interessou pelos conhecimentos relacionados à saúde humana, em razão, inclusive, do histórico familiar.
Chefe de família

Como o pai morreu quando ele tinha 3 anos e a mãe era dependente alcoólica, coube a Cícero cuidar dos irmãos.

“Eu era o curandeiro lá de casa. Pegávamos comida no lixo, e, por isso, tínhamos muita disenteria e doenças de pele. Aí, eu usava receitas caseiras e plantas para fazer remédio para os meus irmãos”, explica.

A higienização dos alimentos era feita com limão.

“A gente colocava tudo de molho, lavava bem, mas não resolvia totalmente o problema”, conta. Hoje, o médico diplomado diz que sente “muito orgulho de ter chegado até aqui”.

É ou não é uma grande história de superação?

Fonte: Correio Braziliense

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