quinta-feira, 7 de maio de 2015

ISRAEL SOFRE DURAS CRÍTICAS POR MAUS TRATOS A CRIANÇAS PALESTINAS PRESAS


As denúncias de maus tratos recebidos por crianças palestinas enquanto se encontram detidas em unidades policiais ou militares israelenses não são novas.
Ramallah, Cisjordânia– O embaixador da Palestina na Organização das Nações Unidas (ONU), Riyad Mansour, enviou uma carta ao Conselho de Segurança para exigir medidas contra Israel pelo abuso sofrido por crianças palestinas presas abusivamente por forças de segurança israelenses.

“Todos os dias, e das mais diferentes formas, as crianças palestinas são vítimas de violações aos direitos humanos cometidas pelas forças israelenses. Nenhuma criança é considerada tão pequena que não possa sofrer a repressão aplicada pelas forças de ocupação e pelos colonos extremistas”, escreveu Mansour.

“São crimes cometidos contra nossas crianças, e por isso são intoleráveis e inaceitáveis”, insistiu.

A carta foi enviada no dia 1º de maio, após a divulgação do caso de Ahmad Zaatari, um menino de nove anos, da localidade de Wadi Joz, na Jerusalém Oriental, que foi preso pela polícia de Israel durante oito horas, na noite de 28 de abril, quando ele e seu irmão Muhammad Zaatari, de 12 anos, supostamente atiraram pedras num ônibus israelense.

As denúncias de maus tratos recebidos por crianças palestinas enquanto se encontram detidas em unidades policiais ou militares, em Jerusalém Oriental ou na Cisjordânia ocupada, não são novas.

“O maltrato de crianças que entram em contato com o sistema de detenção militar parece ser generalizado, sistemático e institucionalizado em todo o processo”, concluiu a Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), num relatório de 2013 que recomendou a adoção de 38 mudanças, após de consultar as autoridades de Israel.

No entanto, em fevereiro de 2015, um novo relatório da Unicef, que buscava avaliar os avanços nas 38 recomendações, aponto que “as denúncias de supostos maus tratos às crianças durante sua captura, traslado, interrogatório e durante o tempo em prisão não diminuíram significativamente em 2013 e 2014″.

Em outro relatório, dessa vez de abril de 2015, a organização de direitos humanos Militar Court Watch (MCW), que vigia o tratamento que recebem as crianças palestinas nas unidades israelenses de detenção militar, denunciou que “ao menos 87% das recomendações da Unicef carecem de aplicação efetiva, e o maltrato recebido pelas crianças que entram em contato com esse sistema segue sendo, como se afirmou no documento de 2013, ‘generalizado, sistemático e institucionalizado’”.

“As crianças palestinas são tratadas com a mesma falta de piedade que os adultos. O mais preocupante são as surras brutais, outras formas de tortura e o isolamento prolongado” aos que são submetidos, segundo destacou a organização de direitos humanos DCIP (sigla em inglês para Defesa Internacional das Crianças Palestinas).

DCIP afirma que, diferente do que acontece com os judeus, os pais palestinos não podem acompanhar seus filhos quando são interrogados, e existem casos de crianças menores de 12 anos que chegam aos centros de interrogatório acorrentadas, com os olhos vendados e sem dormir.

A maioria experimenta abusos físicos comparáveis com a tortura antes, durante e depois do interrogatório, e “quase todas as crianças confessam, independentemente de terem culpa, para deter os abusos”, destacou o DCIP. Com frequência, são obrigadas a assinar confissões em hebreu, idioma que não compreendem, completou o informe da organização.

“As semelhanças entre as situações verificadas em Jerusalém Oriental e na Cisjordânia existem devido às inevitáveis tensões surgidas como consequência da ocupação militar prolongada”, expressou Gerard Horton, da MCW, em diálogo com a IPS.

“Se você pode modificar o sistema da forma que quiser, mas se não são abordadas as causas dos problemas, a situação continuará sendo a mesma”, advertiu.

“A maioria das crianças palestinas são detidas perto de assentamentos israelenses em Jerusalém Oriental e na Cisjordânia. Se você injeta 500 mil colonos em território ocupado e a missão das forças de segurança és protegê-los, isso termina inevitavelmente no terror contra a população local”, sustentou Horton.

Enquanto isso, Israel acumula críticas profundas, incluindo um informe realizado por uma comissão de investigação de incidentes sucedidos durante o conflito em Gaza, nos meses de julho e agosto de 2014, que foi divulgado pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, no dia 27 de abril.

A comissão de investigação chegou à conclusão de que Israel é responsável pela morte de 44 palestinos e pelos ferimentos em outros 227, resultados dos sete ataques realizados contra os edifícios da ONU em Gaza, onde estavam refugiados civis palestinos.

Ban declarou que os bombardeios foram “de suma gravidade” e que “negaram a esperança e a confiança aos que buscaram proteção” nos refúgios da ONU.

Segundo Chris Gunness, porta-voz da Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos em Oriente Próximo, a ONU proporcionou às forças israelenses a localização exata das instalações da organização onde se refugiavam civis.

“A investigação da ONU determinou que, apesar das numerosas vezes em que o exército israelense recebem a informação das coordenadas de GPS das escolas, e das numerosas notificações sobre a presença de pessoas desabrigadas, nos sete casos investigados… quando nossas escolas, ou suas imediações receberam bombardeios diretos, o bombardeio veio de parte das FDI”, em referência às Forças de Defesa de Israel, explicou.

Contudo, o secretário-geral da ONU também criticou os grupos palestinos que colocaram em risco as escolas que serviam como refúgio, ao ocultar armas em algumas delas.

“Estou chocado, pelo fato de grupos armados palestinos terem arriscado as escolas da ONU, usando-as para esconder suas armas. Ainda assim, as três escolas onde foram encontradas armas estavam vazias, portanto, não foram utilizadas como refúgio”, esclareceu Ban.

Diplomatas de Israel pressionaram a ONU para não difundir suas conclusões antes de as autoridades israelenses apresentarem suas próprias investigações das violações de direitos humanos. Em setembro de 2014, Israel começou a investigar cinco casos criminais, que incluem casos de saqueamentos.

Mais de dois mil palestinos, a maioria civis, morreram durante o conflito de Gaza, em 2014. Do lado israelense, os foguetes e ataques do Hamás e outros grupos armados mataram a 67 soldados e seis civis.
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Tradução de Victor Farinelli.

Fonte: Carta Maior

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