quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

LICITAÇÃO PARA NOVA ESTAÇÃO BRASILEIRA NA ANTÁRTICA TERMINA SEM INTERESSADOS


Dois anos após o incêndio que destruiu a Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF), nenhuma empresa parece disposta em executar a construção do novo empreendimento idealizado para o local.

Com projeto arquitetônico pronto e uma licitação aberta em novembro pelo governo federal, o prazo para que construtoras protocolassem a intenção em participar da obra expirou na última segunda-feira, 24, sem que uma única proposta tenha sido recebida.

Inaugurada em 1984, a Estação era a única instalação permanente do Brasil no continente gelado. A base pegou fogo em 25 de fevereiro de 2012, poucos dias depois de completar 30 anos. Um curto-circuito na praça das máquinas deu início ao incêndio que rapidamente se alastrou por toda a construção. Havia 60 pessoas na base - metade delas pesquisadores de universidades nacionais, que escaparam ilesos. Dois militares brasileiros morreram durante o acidente.

O incêndio causou comoção, não apenas pelas baixas militares, mas também pelo temor da comunidade científica nacional que duvidava da capacidade do governo em reorganizar uma importante base de pesquisas. A desconfiança, hoje é possível afirmar, era infundado. Sem uma construção fixa, mas com apoio de dois navios especiais, uma base provisória foi construída no lugar no ano passado, com a instalação de 45 Módulos Antárticos Emergenciais (MAEs), levantados por uma empresa canadense (Weatherhaven).

Desde então, a Secretaria da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (Secirm) trabalha para iniciar as obras de um prédio fixo. O projeto, entretanto, esbarra no que as construtoras brasileiras consideram um baixo custo-benefício para ser tocado adiante.

Com o fim do processo de licitação, o resultado é o que se chama juridicamente de “licitação deserta”. Ou seja, ninguém demostrou interesse. A licitação estava aberta à participação de empresas brasileiras e estrangeiras formalmente legalizadas no Brasil. Segundo o mercado, esse desinteresse é motivado pela alta complexidade logística do projeto. Em tese, o país não tem know-how para trabalhar nas condições adversas do continente. E, o que é ainda pior, por se tratar de um contrato único, os esforços dispendidos para tocar a obra não seriam uteis em curto e médio prazo para novas obras.

O problema, em tese, é o mesmo que dificulta a consolidação de empresas em áreas estratégicas à soberania nacional, como no segmento de defesa. Sem uma escala minimamente aceitável, as companhias evitam atuar no desenvolvimento de soluções de ponta, virando as costas para as licitações do governo em detrimento às demandas civis.

Mas de volta à Estação Antártica, agora, o resultado prático é que a Secirm deverá dispensar a realização de nova concorrência para fazer uma contratação direta para a construção da nova base. Certamente, a empresa contratada será estrangeira, algum grupo com experiência na construção de instalações polares, na própria Antártida ou no Ártico. Companhias do Canadá, da Noruega e do Reino Unido são forte candidatadas.

Fonte: Voz da Rússia

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