Por Douglas Belchior
Nove suspeitos de roubo a bancos foram mortos em uma operação conjunta das polícias de Minas Gerais, São Paulo e Federal na madrugada de sábado (22/02), em Itamonte (MG). Os mortos seriam integrantes de uma quadrilha especializada em roubo a bancos que estava prestes a agir na cidade. Houve troca de tiros entre policiais e os suspeitos. Dois agentes acabaram feridos. Um décimo suspeito de participar da ação em Itamonte teria sido assassinado pela polícia em São José dos Campos dois dias depois.
A polícia seguia os passos da quadrilha há tempos. Eles saíram armados de São Paulo em cinco carros e foram acompanhados por policiais durante o caminho. Já na cidade, chegaram a explodir um caixa eletrônico, mas foram surpreendidos pelas polícias. Na troca de tiros, nove suspeitos foram mortos, quatro foram presos e os demais fugiram.
Cangaço
“Era uma típica ação de cangaço, que se via com Lampião. Eles iam em cidades pequenas e faziam isto”, afirmou o delegado Ruy Ferraz Fontes, que coordenou a investigação.
O delegado descreveu a ação em Itamonte: “no momento em que eles foram atacar, nosso grupo já estava dentro da cidade. Quando foram abordar os criminosos, eles já haviam explodido um caixa. Nosso grupo foi fazer a intervenção para promover a prisão deles e foi recebido a tiros”, afirmou.
Versão oficial, inteligência policial e cegueira coletiva
A quadrilha estava sendo investigada há pelo menos três meses – dizem alguns jornais. Ou há oito meses, dizem outros. E a polícia já sabia da ação planejada pelos assaltantes. Por que a PM não os interceptou antes da explosão do caixa eletrônico?
Inteligência investigativa não deveria servir para desarticular ações criminosas, se antecipar aos crimes e diminuir a violência e as ações letais? Ou, ao contrário, serve para cercar “bandidos” e executá-los em praça pública?
“Homens fortemente armados com fuzis, espingardas calibre 12, pistolas, dinamites, munições e coletes à prova de bala”, como fora divulgado, resistiram pouco não? De um lado, nove pessoas assassinadas, do outro um ou dois policiais feridos. E onde estão as marcas de bala nos carros dos policiais?
Os agentes faltaram às aulas do Método Giraldi, doutrina que prepara o policial para atirar, quando necessário, em regiões não letais do corpo? Ou sua prática nos cursos de formação da polícia não passa de peça de marketing para que “esse pessoal dos Direitos Humanos não encham o saco?”.
Que “confronto” é esse entre mocinhos e bandidos que, se não traz mortes de um só lado, as apresenta em uma desproporção absurda? Não se trata aqui de desejar o empate entre as mortes, mas de questionar a eficácia de uma politica de segurança pública que elege a repressão e o extermínio como solução para conflitos sociais, o que vitima tanto os civis quanto os fardados.
Não se trata aqui de defender bandidos ou mesmo saques a bancos, como muitos me acusarão – muito embora não sinta nenhuma misericórdia pelos banqueiros, pobrezinhos, e me lembre de Bertolt Brecht quando pergunta: “O que é roubar um banco em comparação a fundar um” – mas, não é possível aceitar como natural que uma ação policial termine com nove, dez, onze assassinatos deliberados e comemorados pela mídia, pelas autoridades e amplamente aceita pela sociedade.
Uma ação responsável das polícias – algo difícil de se esperar de uma das instituições mais violentas do mundo – poderia inclusive economizar a vida do professor Silmar Júnior Madeira, morto “por engano”, como reconheceu a própria polícia.
O debate sobre desmilitarização e um novo modelo de segurança pública passa por avaliar a postura de uma polícia que viu avançar a tecnologia de suas armas, mas que mantém uma estratégia de ação da época de Virgulino.
Se bandos agem hoje tal qual agia o grupo de Lampião, também é do tempo do Cangaço a forma como o Estado trata seu povo, a concentração de renda e da riqueza e principalmente a maneira como age as forças de repressão, matando muito mais que bandidos e expondo suas cabeças para dar o exemplo.
Exposição das cabeças de Lampião e seu bando, tratadas com aguardente e cal, a partir de 1938 “viajam” por todo o nordeste, afim de deixa o exemplo.
Fonte: Negrobelchior - Carta Capital
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