quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

O MERCOSUL COMPROU A VERSÃO DE MADURO PARA A CRISE NA VENEZUELA?


Governo e oposição estão errados na Venezuela, mas o bloco escolheu seu lado.

A polarização é um fator conhecido na política venezuelana, responsável por dificultar o entendimento das crises que ocorrem no país, como a iniciada na quarta-feira 12, com a morte de três pessoas em uma manifestação em Caracas. É justamente por conta da tradicional falta de parcimônia do governo chavista e da oposição que causa espanto a nota oficial do Mercosul sobre a crise, cujo teor, segundo o Itamaraty, reflete a posição do governo brasileiro. O comunicado do bloco, ao qual a Venezuela foi incluída em 2012, se assemelha a um desagravo a Nicolás Maduro.

O texto do Mercosul está disponível no site da chancelaria venezuelana, país que ocupa atualmente a presidência temporária do bloco. O comunicado fala de "tentativas de desestabilizar a ordem democrática" e rechaça "as ações criminais dos grupos violentos que querem disseminar a intolerância e o ódio na República Bolivariana da Venezuela como instrumento de luta política". O Mercosul, continua o texto, "expressa seu mais firme rechaço às ameaças de ruptura da ordem democrática" e insta as partes a continuar o diálogo "no marco da institucionalidade democrática e do estado de direito, tal como promovido pelo presidente Nicolás Maduro".

De fato, alguns dos atos da oposição venezuelana são bastante preocupantes. Os líderes Maria Corina Machado e Leopoldo López representam um setor da oposição que, incapaz de derrotar o chavismo nas urnas, busca deslegitimar o governo. Machado atua de forma particularmente intensa nesta empreitada ao se referir ao governo eleito como uma "ditadura Castro-Comunista". Na atual crise, Machado e López estão instrumentalizando os estudantes que foram às ruas contra a violência para tentar criar um clima que force a saída de Maduro. O próprio lema dos protestos convocados por eles, "a saída", deixa isso claro.

A atuação perigosa da oposição, entretanto, não serve para compor o quadro favorável a Maduro pintado pela nota do Mercosul. Desde a semana passada, o presidente venezuelano tenta deslegitimar qualquer manifestação contra seu governo como uma tentativa de golpe. Para conter o suposto levante, Maduro convocou o povo a se unir para "repudiar a violência e os fascistas" e aqueles que desejam "impor a intolerância e o ódio", construção usada comumente pelo presidente venezuelano e que, talvez não por coincidência, consta no comunicado oficial do Mercosul.

Ao contrário do que afirma a nota do Mercosul, Maduro não tem pregado o diálogo com a oposição. Além da repressão policial, há acusações de que o governo teria bloqueado imagens e vídeos no Twitter e suspendido o sistema de transporte público em redutos da oposição. Outras figuras importantes do chavismo também não têm se esforçado para apaziguar os ânimos. O chanceler Elías Jaua fala com frequência sobre a suposta ameaça "fascista" e o presidente do Parlamento, Diosdado Cabello, atribuiu as manifestações recentes a uma conspiração internacional, com participação do ex-presidente da Colômbia Álvaro Uribe.

Diante da polarização na Venezuela e dos erros de lado a lado, chama a atenção o fato de o Mercosul ter adotado uma postura tão favorável a Maduro. Um caminho menos temerário seria o tomado pela União das Nações Sul-Americanas, a Unasul. Em um comunicado divulgado no domingo 16, a entidade adotou um tom neutro, porém firme, ao defender a "preservação da institucionalidade", a "defesa da ordem democrática" e a necessidade de convicções serem expressadas pela "via democrática".

É de se estranhar também que o governo brasileiro tenha dado anuência ao comunicado do Mercosul. A CartaCapital aassessoria de imprensa do Itamaraty informou que a posição do Brasil sobre a situação na Venezuela "está refletida nas notas à imprensa dos Estados-membros do Mercosul e da Unasul", uma vez que o governo brasileiro "acredita ser mais eficaz, no que diz respeito à tomada de posição sobre a situação na Venezuela, manifestação coletiva dos países de ambos os blocos regionais".

De fato, a ação conjunta dos países sul-americanos é uma ferramenta útil, como provou o apaziguamento da crise boliviana em 2008, mas ela se enfraquece quando uma entidade como o Mercosul confunde a aliança entre os Estados com um aliança entre governos.

Fonte: Carta Capital

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