Os EUA têm “certos fundamentos” para estar preocupados com a mais recente arma espacial da China. Se trata de uma “arma real” que, no entanto, não será colocada no espaço: foi assim que peritos russos comentaram as análises feitas pelos militares norte-americanos e divulgadas nas audiências do Congresso dos EUA.
A China está desenvolvendo uma arma antissatélite capaz de destruir satélites militares estadunidenses ou perturbar gravemente o seu funcionamento, declarou Ashley J. Tellis, antigo funcionário do Departamento de Estado e do Conselho de Segurança Nacional dos EUA. Serão especulações para tentar obter financiamentos do Congresso ou os Estados Unidos estarão realmente preocupados com os avanços espaciais chineses? Ambas as coisas, considera o major-general Vladimir Dvorkin, investigador principal do Centro de Segurança Internacional:
“Os norte-americanos são quem mais depende do espaço do ponto de vista do apoio militar a quaisquer operações de vigilância e controle e para a satisfação de necessidades econômicas. Por isso é natural que eles estejam preocupados com quaisquer novidades ou testes que possam interferir de alguma maneira com as suas atividades espaciais. Entretanto é verdade que a China está realizando esses trabalhos, se bem que nada possa dizer sobre a sua intensidade. Os chineses fizeram uma experiência para a destruição de um satélite deles, isso é um fato conhecido. Por isso, aqui tanto se pode tratar de uma preocupação natural por parte dos Estados Unidos, como de uma tentativa dos lobbistas para receber fundos militares adicionais.”
A China aprendeu a destruir ou capturar aparelhos espaciais tanto na órbita terrestre, como a partir do centro de controle na Terra. Os militares estadunidenses chamaram a atenção dos congressistas para essas capacidades tecnológicas da China. O capitão de mar e guerra Konstantin Sivkov, vice-presidente da Academia dos Problemas Geopolíticos, considera:
“Isso é perfeitamente realista, visto que até os iranianos têm capacidade para interceptar o controle de drones dos EUA e fazê-los pousar em seu território. Contudo, o Irã está incomparavelmente mais atrasado que a China. Portanto, conseguir interceptar o controle de satélites dos EUA não representa uma grande dificuldade para a China. Tanto mais que o sistema de comando de um satélite não é mais potente que o comando de um drone, que atua em condições bem mais adversas que um satélite. Temos de olhar a China como um país que deu o salto para uma posição entre os líderes mundiais em tecnologias. Ela ainda está um pouco atrasada, mas essa diferença será rapidamente compensada nos anos mais próximos.”
O primeiro teste com sucesso da arma antissatélite foi realizado pela China a 11 de janeiro de 2007. Nessa altura o satélite meteorológico FY-1C da série Fengyun, com 1-1,5 toneladas de peso e uma órbita com 865 quilômetros de altitude, foi diretamente atingido com um míssil antissatélite. O míssil foi disparado a partir de um lançador móvel no centro de lançamentos de Xichang e interceptou o satélite em trajetória de colisão. Tendo chamado a atenção para esse fato, o diretor do Centro de Pesquisas Sociopolíticas Vladimir Evseev declarou:
“A China é realmente capaz de destruir satélites, mas os que se encontrem em órbitas baixas. Ainda não foi confirmada qualquer informação sobre a possibilidade de serem atingidos satélites geoestacionários a altitudes de 36 mil quilômetros. Ela tem a capacidade de atingir satélites a partir da Terra, mas não os geoestacionários. Para atingir alvos no espaço é preciso colocar em órbita um sistema de ataque. A Rússia e a China foram os iniciadores de uma convenção para a proibição da colocação de armas no espaço. Partindo desse princípio, a China não irá colocar quaisquer armas no espaço, apesar de ter potencialmente essa capacidade.”
Foi assim que Vladimir Evseev contestou à revelia a afirmação do perito Robert Butterworth no Congresso dos EUA que “os militares chineses parecem estar preparando um conflito com os EUA e querem abater satélites militares”. Contudo, o perito russo concorda com a opinião do seu colega estadunidense sobre a criação pela China de armas cibernéticas, anuladores de sinais no espaço e de armas laser:
“Esses trabalhos estão em curso, a questão é em que fase eles se encontram: na fase de investigação experimental ou na fase de trabalhos de concepção. Provavelmente os trabalhos ainda estarão na fase de investigação experimental. Ou seja, os objetivos ainda não terão sido completamente alcançados. Mas eu não duvido que esses trabalhos já estão em curso.”
Nesse contexto o major-general Vladimir Dvorkin recordou que já existe um código de conduta no espaço. Ele não é obrigatório, mas prevê a interdição do ataque a quaisquer objetos espaciais. É necessário reforçar essa tendência através da aprovação das convenções internacionais correspondentes.
Fonte: Voz da Rússia
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