Seguindo o exemplo do prefeito do PCdoB Neto Barros, de Baixo Guandu no Espírito Santo, índios da tribo Krenak decidiram interromper a Estrada de Ferro Vitória-Minas, por onde a Vale, sócia da Samarco e da ferrovia, escoa seus minérios. A ação foi um protesto contra a falta de água e a destruição do Rio Doce provocado após o rompimento das barragens da mineradora em Bento Rodrigues, distrito de Mariana, em minas Gerais.
"Com a gente não tem isso de nós, o rio, as árvores, os bichos. Somos um só, a gente e a natureza, um só", disse Geovani Krenak, líder da tribo que, assim como os demais integrantes, estava com o corpo pintado para a guerra, com tinta preta no rosto e olhos vermelhos de noites mal dormidas. "Morre rio, morremos todos", completou ele, segundo a BBC Brasil.
O Rio Doce foi contaminado pela lama tóxica que escorre por todo a sua extensão há 10 dias, atravessando a reserva da tribo. O rio é considerado sagrado há gerações e toda a água utilizada por 350 índios para consumo, banho e limpeza vinha dali.
"Só saímos quando tiverem a dignidade de conversar com a gente. Destruíram nossa vida, arrasaram nossa cultura, e nos ignoram. Não aceitamos”, repele o índio Aiá Krenak.
Por meio de nota, a Vale disse que "continua, com apoio da Funai, as tentativas de negociação com o Povo Indígena Krenak para liberação da ferrovia".
Tentando transferir o problema, a empresa diz ainda que a interdição está impedindo o transporte de água para as comunidades da região do Rio Doce.
"A empresa repudia quaisquer manifestações violentas que coloquem em risco seus empregados, passageiros, suas operações e que firam o Estado Democrático de Direito e ratifica que obstruir ferrovia é crime", diz a Vale.
Enquanto isso, as 350 pessoas da tribo estão sem água sob um sol de 41 graus por conta do crime ambiental provocado pelo rompimento da barragem.
Uma decisão judicial determinou que índios deixem local em até próxima terça-feira (17). Mas os indígenas já avisaram que manterão a ferrovia interditada até que representantes da Vale apareçam para discutir com eles a recuperação do rio sagrado e um esquema de fornecimento de água por caminhões pipa.
Também em entrevista à BBC Brasil, o professor de recursos hídricos Alexandre Sylvio Vieira da Costa, da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, disse que o rio precisará de pelo menos 10 anos para "começar a se estabelecer novamente".
"Todas as plantas aquáticas que dão base ao ciclo biológico do rio morreram com a chegada esse rejeito, composto basicamente de ferro, alumínio e manganês. A água fica mais densa e o oxigênio não consegue se misturar", explicou Costa. "Por isso não sobrou nada. Nem caramujo”, completa.
Fonte: BBC Brasil
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