O presidente sírio Bashar Assad recebeu na terça-feira (24) uma notória carta do senador norte-americano Richard Black, contendo pesadas críticas à política intervencionista dos EUA e elogios à iniciativa russa na Síria. Em entrevista à Sputnik, ele afirmou que “mais pessoas reconhecem agora o absurdo de se aliar a terroristas contra a Síria”.
Em sua carta, Black disse que o conflito no país foi gerado de fora, constituindo “uma guerra ilegal de agressão por potências estrangeiras determinadas a forçar um regime fantoche sobre a Síria”.
À Sputnik, o senador lembrou que, em 2001, o general Wesley Clark – ex-líder do Comando Europeu, que inclui todas as atividades militares dos EUA em 89 países e territórios na Europa, África e Oriente Médio – revelou planos de Washington de derrubar sete “nações pacíficas, incluindo a Líbia e a Síria”.
“Aqueles planos levaram aos piores desastres da política externa na história dos EUA”, disse Black.
Segundo ele, a Agência Central de Inteligência (CIA) norte-americana elaborou um pretexto para atacar a Líbia, a fim de enviar as armas do então presidente Muammar Khaddafi para a Turquia e, assim, derrubar eventualmente “o governo estável e secular da Síria”.
“Antes mesmo que a Líbia tivesse entrado em colapso, agentes começaram a enviar armas apreendidas para a Turquia a partir de uma base aérea líbia ocupada. A Turquia forneceu essas armas a terroristas sírios por anos”, disse ele.
O senador, representante do estado da Virgínia, disse ainda que “as agências de inteligência ocidentais instigaram a revolução síria a fim de derrubar o Presidente Assad”, cuja liderança secular seria repudiada pela Arábia Saudita e pela Turquia, que, segundo Black, prefeririam ver na Síria uma “severa ditadura islâmica”.
“Se os turcos e sauditas forem bem-sucedidos, eles vão instalar um brutal regime islâmico dominado pelo Estado Islâmico ou pela Al-Qaeda. Um banho de sangue massivo, com o estupro e a escravização de cristãos, alauítas, drusos e muçulmanos moderados se seguirá inevitavelmente”, disse ele à Sputnik.
Ainda segundo o senador norte-americano, o ataque químico de Ghouta, ocorrido em agosto de 2013 nos arredores de Damasco, foi “encenado por rebeldes para atrair a América [os EUA] para um combate direto contra a Síria”. O fato, segundo lembrou o político, foi confirmado pelo ganhador do Pulitzer Seymour Hersh, que afirma que o ataque com gás sarin na Síria foi realizado por rebeldes sob a direção de agentes da inteligência turca.
Em sua carta a Assad, Black expressou decepção diante da maneira com a qual os EUA responderam a ajuda da Rússia para a Síria – enviando mísseis antitanque TOW a terroristas. Criticando a loucura de tentar separar os "bons terroristas", aos quais as armas seriam enviadas, em oposição aos "maus terroristas" que ficariam privados delas, o senador acrescentou que o envio dos mísseis por parte dos EUA é extremamente irresponsável, na medida em que armas antitanque têm longo alcance e podem ser usadas para atacar e destruir aviões de passageiros que estiverem decolando.
À Sputnik, Black disse que, apesar do anúncio sobre o encerramento do programa de treinamento de “rebeldes moderados” da Síria por parte do Pentágono, “os EUA continuam profundamente envolvidos em treinar terroristas e em armá-los para confrontar as legítimas forças sírias”.
“Nos últimos quatro anos, os EUA treinaram 200 terroristas a cada mês apenas em bases na Jordânia. Essas jihadistas atravessam regularmente a fronteira para invadir a Síria. A CIA também administra campos de treinamento na Arábia Saudita, no Qatar e na Turquia. Dezenas de milhares de caminhões Toyota equipados com canhões de 23 mm estão sendo entregues nos portos da Turquia, a partir da Croácia, e sendo entregues a facções ligadas ao Estado Islâmico e à Al-Qaeda que lutam na Síria”, disse ele.
Black observou ainda que a onda de refugiados da guerra civil síria, que já dura mais de 5 anos, só tomou as atuais proporções dramáticas na Europa “depois que o presidente [turco Recep Tayyip] Erdogan consolidou poder total na sequência das recentes eleições”.
“Eu tenho um profundo afeto pelo povo sírio, mas seu lar é na Síria. Em vez de reassentá-los no exterior, deveríamos parar de fornecer armas aos terroristas e trazer um fim à guerra”, declarou o senador à Sputnik.
De fato, segundo ele, as nações ocidentais que começaram a guerra teriam a capacidade de acabar com ela se assim o desejassem.
“Não se engane, a guerra continua unicamente porque a coligação continua a jogar lenha na fogueira. Esta guerra é impulsionada por uma série de coisas relacionadas, incluindo: 1 — os petrodólares sauditas, financiando enormes compras de armas de comerciantes de armas ocidentais; 2 — a Turquia mantendo lacunas na fronteira, através das quais ela inunda os [grupos] afiliados do Estado Islâmico e da Al-Qaeda de jihadistas, veículos e armas; e 3 — comerciantes de armas ocidentais fornecendo mísseis antitanque e antiaéreos para os jihadistas”, concluiu o senador norte-americano.
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