quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

IVAN VALENTE: “O GOVERNO BRASILEIRO DEVE CONCEDER ASILO A EDWARD SNOWDEN”



Na quarta-feira, 17, a Voz da Rússia conversou com o deputado federal Ivan Valente, presidente nacional do PSOL e membro da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, sobre a carta enviada ao Brasil pelo ex-técnico da NSA Edward Snowden, que revelou o esquema de espionagem do governo americano.

Voz da Rússia: Deputado Ivan Valente, é um grande prazer voltar a conversar com o senhor. Seja muito bem-vindo.

Ivan Valente: Obrigado. É um grande prazer poder falar com todos os ouvintes da Voz da Rússia. Nós entendemos essa carta do Snowden ao povo do Brasil, como ele colocou, como uma iniciativa muito positiva, na qual ele dá uma noção da amplitude e da repercussão internacional do debate suscitado em todas as esferas – seja da economia, da política, da área social e particularmente dos direitos humanos – em que ele levanta o papel da espionagem americana, com a qual ele não pôde conviver ou compactuar. Então, ao colocar essa questão, ao se situar como uma referência objetiva à posição brasileira, no que nos toca, entendemos que ele teria solicitado na prática, com essa iniciativa, que o seu asilo fosse feito no Brasil, onde ele se sentiria mais à vontade e mais correspondido. Para nós, que pedimos aqui na Câmara dos Deputados a criação de uma comissão para visitá-lo em Moscou – e estamos batalhando por isso até hoje, com o embaixador russo aqui –, isso reforça a nossa ideia de uma interlocução direta com Edward Snowden e de gestões junto ao governo brasileiro para que se situe de uma forma mais clara a favor de um asilo político ao Snowden no nosso país. Acho que seria uma iniciativa de ousadia da diplomacia brasileira e do governo brasileiro, uma iniciativa positiva de ataque a essa lógica que, debaixo de uma visão que se passa de combate ao terrorismo, tem na verdade amplos interesses econômicos de vigilância, de cerceamento da liberdade e assim por diante.

VR: Aqui na Voz da Rússia, nós temos a informação de que apenas um único deputado alemão foi recebido por Snowden em Moscou e de que os parlamentares da União Europeia estariam conversando com as autoridades russas sobre a possibilidade de entrevistá-lo por videoconferência. E aqui no Brasil, há alguns meses, conforme o senhor mesmo citou, nós tivemos a oportunidade de conversar sobre a proposta da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados de ir a Moscou conversar com o ex-técnico da NSA. Ainda está em cogitação essa viagem dos deputados brasileiros?

IV: Certamente. Nós ainda estamos pressionando o presidente da comissão. E essa ideia de fazer uma videoconferência, via Skype ou qualquer outra forma, deveria envolver também parlamentares brasileiros, porque a divulgação que foi feita no Brasil por Glenn Greenwald [jornalista responsável pela publicação dos documentos vazados por Snowden] foi de repercussão internacional. O governo brasileiro foi diretamente atingido por essa espionagem, e cada fato sucessivo que denunciava a espionagem econômica, a espionagem sobre a presidência da República, sobre altos escalões do governo e sobre a cidadania brasileira foi demonstrando que o Brasil era um alvo preferencial.

VR: E seria o senhor o representante brasileiro nessa entrevista?

IV: Se for possível ter mais de um representante, logicamente, seria importante. Seria interessante convidar o presidente da comissão, o deputado Nelson Pellegrino, e nós, pela iniciativa que tomamos. Estamos insistindo com a embaixada russa ainda para que ela facilite esse contato. Mas, até agora, não obtivemos um resultado positivo.

VR: O jornalista Glenn Greenwald, ao qual o senhor se referiu, concedeu uma entrevista ao jornal O Globo – publicada no início da tarde de hoje [17/12/2013] – dizendo que do teor da carta de Edward Snowden não se pode depreender que ele tenha propriamente pedido asilo ao Brasil. Mas, sim, que ele teria feito um comentário de que, estando no Brasil, poderia colaborar de forma mais direta com as autoridades brasileiras no sentido de revelar de que maneira se processava e se processa essa vigilância eletrônica. O que lhe parece? Edward Snowden pediu ou não pediu asilo ao Brasil?

IV: Edward Snowden foi acolhido por um país, que é a Rússia. E certamente ele está asilado lá. Então, não é uma situação simples para ele se colocar abertamente mais à vontade para se asilar em outro país. Mas acho que o conjunto da carta dele mostra que ele teria, sim, uma grande simpatia pelo asilo político brasileiro. Acho que isso é um processo também, não se dá de uma hora para outra. É preciso haver laços de aproximação, e acho até que o parlamento brasileiro poderia ajudar a cumprir esse papel. Por exemplo, na questão da videoconferência ou na visita à Rússia. E também entendo que o Itamaraty e o governo brasileiro deveriam ler nessa mensagem uma sugestão, embora ele não possa ter – nem deve – a disposição imediata de colocar uma troca de países para se asilar. Mas quem ler a carta com atenção vai perceber que ele tem um carinho especial e informações privilegiadas em relação ao Brasil. E parece que seria muito interessante para ele ficar aqui.

VR: Deputado, desde que Glenn Greenwald tornou públicas as informações de Snowden sobre o monitoramento realizado no Brasil pelos órgãos de inteligência dos Estados Unidos, o presidente Barack Obama e a presidente Dilma Rousseff se encontraram pelo menos duas vezes: no G20, em São Petersburgo, em setembro, e na semana passada, durante o velório do ex-presidente sul-africano Nelson Mandela. Enquanto o encontro na Rússia foi marcado por uma certa tensão, com Dilma Rousseff cobrando de Barack Obama explicações sobre a vigilância americana sobre o Brasil, o da semana passada, na África do Sul, foi bem mais cordial, inclusive com trocas de beijos entre os dois chefes de Estado. O senhor acredita que tenha havido um abrandamento da posição do governo brasileiro em relação aos Estados Unidos?

IV: Eu acho que o governo brasileiro não deveria misturar as coisas. Uma coisa são atitudes mais civilizadas nos encontros. Outra coisa é a gravidade da espionagem. O ato de espionagem é uma agressão muito forte. Então, eu entendo que o governo brasileiro fez bem quando decidiu não comparecer ao encontro nos Estados Unidos [Dilma e Obama deveriam se encontrar no dia 23 de outubro, mas a presidente brasileira cancelou a reunião]. Essa foi uma sinalização positiva. E o governo americano ainda não pediu desculpas oficiais e não sinalizou que vai mudar a sua forma de agir, que desrespeita países autônomos e soberanos. Então, acho que o governo brasileiro deve manter uma atitude de independência e soberania até que os Estados Unidos peçam desculpas e revejam os seus métodos.

VR: O senhor acredita que o Brasil estaria disposto a pagar o preço político no seu relacionamento com os Estados Unidos no caso de uma eventual concessão de asilo definitivo a Edward Snowden?

IV: O governo brasileiro é muito tensionado por uma governabilidade conservadora e por uma mídia conservadora, que tenta impingir uma “opinião publicada”. Haveria sem dúvidas uma pressão muito forte. Mas eu entendo, por outro lado, que, frente à espionagem americana e à agressão que isso representou, há um enorme apelo de opinião pública, como resposta a isso, à concessão do asilo. É uma decisão que cabe ao governo brasileiro, o qual eu acho que tem sido muito tímido para tomar uma atitude como essa. Mas, se tomar, contará com o apoio do PSOL, que entenderá isso como um sinal positivo.

VR: Em julho, quando Edward Snowden pediu asilo a 21 países, o Brasil estava incluído entre eles. E o Brasil, em tese, teria rejeitado essa possibilidade. O senhor, com as informações de que dispõe em Brasília, acredita que o Brasil teria revisto as suas posições?

IV: Eu não tenho elementos para julgar se ele [o governo] teria uma posição mais favorável ao asilo. Frente à carta que foi colocada, novos fatos se colocarão. Porque, agora, há uma sinalização mais aberta. Não só negociações de bastidores. Então, nós entendemos que o governo brasileiro pode tomar uma atitude. Edward Snowden foi sendo absorvido pela opinião pública internacional. Seu trabalho de divulgação e defesa da soberania, da autonomia dos países, dos direitos humanos e dos direitos civis está ganhando um grande apoio mundial. À medida que o tempo passa e se revela que esse trabalho foi algo essencial para a liberdade dos cidadãos do mundo todo, acho que o governo brasileiro não só pode como deve conceder o asilo.

VR: Deputado Ivan Valente, presidente nacional do PSOL, ao lhe agradecer por mais essa entrevista, quero lhe dizer que a Voz da Rússia tem a honra de comunicar a escolha do seu nome como Personalidade do Ano de 2013 por sua destacada contribuição ao trabalho executado por nossa emissora para o fortalecimento das relações entre Brasil e Rússia. Nós teremos o prazer de entregar pessoalmente ao senhor a placa comemorativa e lhe dar os devidos parabéns.

IV: Eu agradeço por essa escolha e pelo prestígio que vocês têm dado ao nosso mandato popular e socialista, e quero aproveitar para deixar um abraço a todos os ouvintes da rádio Voz da Rússia.

Fonte: Voz da Rússia

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