terça-feira, 3 de dezembro de 2013

PAISAGEM DE INVERNO NA PINTURA RUSSA DO SÉCULO XIX E INÍCIO DO SÉCULO XX


Uma das primeiras obras dedicadas à natureza russa no inverno foi o quadro de Nikifor Krylov, pintado em 1827 nos arredores de Peterburgo. O historiador da arte Mikhail Alpatov, em seu ensaio "Da história da paisagem russa", escreveu que o encanto desta obra está na timidez pura do artista, que com amor procura "transmitir com toda veracidade cada traço da natureza, cada mínimo detalhe, independentemente das formulas clássicas, acadêmicas e quaisquer outras estabelecidas".

Na segunda metade do século XIX surge uma plêiade inteira de pintores que criaram telas que compõem o fundo de ouro da pintura paisagística russa. É costume considerar que as tradições da arte alemã e holandesa exerceram maior influência sobre os mestres deste período. Um exemplo brilhante dessas obras é a tela "Tarde de Inverno na Finlândia" de Arseni Meschersky, que durante muito tempo estudou na Suíça com o conhecido paisagista Alexander Kalam. O pintor suíço era muito conhecido na Rússia: a cópia de suas obras era obrigatória para todos os alunos da Academia Imperial de Belas Artes. A gama colorida, os meios de representar, uma certa rigidez da paisagem de Meschersky - tudo isto lembra muito o estilo de seu mestre.

Talvez as paisagens líricas dos pintores russos são as mais conhecidas e as que gozam de merecido amor. O criador dessa orientação da pintura paisagística foi Alexei Savrasov, que conseguiu em plena medida mostrar a incrível beleza e fino lirismo da natureza russa.

"Ele sabia encontrar no mais simples e comum os traços íntimos, profundamente emocionantes, e com freqüência tristes, que são sentidos tão fortemente em nossa paisagem natal e que atuam de forma irresistível sobre a alma", escreveu sobre Savrasov seu discípulo, famoso paisagista Isaak Levitan.

Considera-se que Levitan foi um dos criadores da pintura plein air na Rússia, em muito graças a suas obras surgiu a tradição de criação de paisagens por impressão direta. Seus quadros, plenos de amor verdadeiro pela natureza russa foram admirados pelos críticos mais apaixonados que se referiam com admiração tanto ao próprio pintor, como a suas obras.

"A paisagem de Levitan ocupa na Rússia uma posição semelhante à paisagem de Coureau e Rousseau na França. É, antes de mais nada a afirmação da paisagem nacional. Levitan é nacional, como é raro outro pintor, e sua arte não existe fora da natureza dos arredores de Moscou ou região do Volga", assinalou o escritor e crítico de arte Pavel Muratov.

Apesar de a arte de Ivan Shishkin ter sido reconhecida pelos contemporâneos e gozar de grande amor em nossos dias, muitos críticos acusaram-no de excessivo grafismo, de que ele sente melhor a delicadeza do desenho do que a delicadeza do tom e do colorido. O historiador da arte Alexander Benois censurava Shishskin por exatidão científica de copista, incapacidade de transmitir a "suculência" da natureza.

Ao mesmo tempo o pintor Viktor Vasnetsov assinalou o significado excepcional de Shishkin para a arte nacional. "Se nos são caros os quadros da natureza de nossa querida e bela Rússia, se nós queremos encontrar nosso caminho verdadeiramente nacional para a reprodução de sua imagem clara, silenciosa e cordial, o caminho passa através de seus bosques, cheios de silenciosa poesia. Suas raízes penetraram tão profundamente no solo da arte nacional, que ninguém nunca as poderá arrancar de lá", escreveu Vasnetsov em 1896.

Yuli Klever propôs nova interpretação da natureza romântica e austera russa, que pareceu virar a imagem da pintura paisagística. O contraste entre o primeiro plano cuidadosamente desenhado, quase em relevo, e o fundo apagado, que se perde em fumaça, os troncos e raízes nodosos reconhecíveis, os crepúsculos e auroras sangrentos causavam no espectador uma impressão desconhecida até então. Alexander Benois recordava que os quadros de Klever "pareciam tão ilusórios que nas exposições ocorriam verdadeiros escândalos, o visitantes atravessavam o tabique para ver de perto a tela e convencer-se de que não havia debaixo deste "prodígio" algum truque, de que o quadro não era iluminado por trás".

Até o início do século XX a pintura paisagística tornou-se incrivelmente popular entre os pintores russos. Em 1909 Pavel Muratov escreveu que o visitante da exposição de arte pode ter a sensação de que a arte russa passa pela "fase de paisagem". Surgiram novos artistas, encantados com o impressionismo, que experimentavam técnicas, que colocavam em primeiro lugar o trabalho com a cor.

O pintor Igor Grabar, que criou uma série de paisagens de inverno que se tornou famosa, escreveu: "São poucos no mundo tais momentos incríveis de polifonia colorida, como dia de geada ensolarado, onde a gama de cores, mudando a cada minuto, colore-se com as nuances mais fantásticas, para as quais não há suficientes cores na palitra".

A cor desempenhou um grande papel também nos quadros de Boris Kustodiev. Suas cenas lendárias, bonitas, festivas da vida provinciana destacavam-se por especial clareza. Na série de obras unidas pelo tema festas de inverno, o pintor conseguiu combinar harmonicamente ousadas soluções coloridas e uma composição quase teatral. Por uma questão de justiça vale a pena dizer que, às vezes, suas obras, que hoje são consideradas clássicas da arte nacional, foram censuradas como primitivas e com excessiva mistura de cores e o próprio pintor foi acusado de estimular o gosto pequeno-burguês. A isto o artista habitualmente respondia: "Eu considero a mistura de cores, e cores vivas justamente muito típica da vida russa".

Fonte: Voz da Rússia

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