Ao polemizar com Berlim e Viena, que procuravam uma conspiração ora em Belgrado, ora quase em São Petersburgo, a imprensa parisiense continua a insistir com uma rara unanimidade, que reúne jornais tão antagônicos como, por exemplo, o L’Eclair, o Libre Parole, o Radical, o L’Action e o L’Humanite, que o drama que se desenrolou em Sarajevo foi uma consequência lógica e natural de toda uma série de acontecimentos.
O disparo de Sarajevo liquidou o inspirador e organizador da anexação que acabou com as aspirações nacionais dos sérvios. Ele foi efetuado no dia da festa nacional sérvia, o que tocou de uma forma mais dolorosa e amarga os sentimentos de mágoa e de opressão nacional. O jornal Le Journal escrevia: “A vítima era o inspirador e a expressão evidente do sistema que era praticado numa Bósnia oprimida”.
“Ao aguardar pelo terror”, refere o Radical, “não podemos deixar de ver no assassinato de Francisco Fernando um sério aviso ao sistema de opressões usado pela Áustria para reforçar o seu domínio usando o direito do mais forte. Um sistema de regime militar, denúncias e procedimentos administrativos é um sistema de governo ultrapassado”. O moderado La France afirma: “A opressão praticada por vontade do defunto foi vingada. Esse foi o triste resultado da política de conquista representada por Francisco Fernando”.
“O que há de estranho”, exclama o senador Henri Beranger no L’Action, “em jovens cabeças quentes inflamadas pela vingança? Eles não podem ser desculpados, mas podem ser compreendidos. O drama que ocorreu é uma página na epopeia da luta do eslavismo contra os seus opressores germânicos.”
Jean Jaures exclama no L’Humanite: “Deixou de haver direito internacional! Por toda a parte reina o sistema do punho blindado que provoca explosões de paixões, violência e assassinatos, esses eternos companheiros da arbitrariedade, da opressão e do despotismo. O falecido arquiduque tomou como objetivo “domar” toda uma nação. Ele planejava derrotar a Sérvia. Agora, claro, eles tentarão responsabilizar um povo inteiro pela exaltação de dois jovens. Já se vislumbra a silhueta de um sósia do fabricado “caso de Zagreb”, e que é a “conspiração de Belgrado”, que irá conceder à camarilha clerical militante um pretexto para ajustar contas com a Sérvia. Que a Áustria tenha cuidado ao optar pelo caminho de mais repressão! Quem semeia ventos colhe tempestades. Só um regime de justiça e liberdade poderá prevenir a explosão das paixões.”
O jornal sérvio Balkan atribui ao atentado de Sarajevo uma importância global. Francisco Fernando ameaçava a paz europeia, ele criou a Albânia para depois conquistá-la, provocou a guerra sérvio-búlgara, mas agora ele desapareceu. O jornal La Stampa escreve que Francisco Fernando pagou por todos os pecados da política austríaca, pelo regime da mentira e das perseguições. Roma aguardava por uma alteração radical na política austríaca. Eles esperavam um fim da política agressiva em Trieste e na região à sua volta, em que o defunto arquiduque apadrinhava os croatas de uma forma especial em prejuízo das outras nacionalidades.
A imprensa turca escreve sobre o atentado de Sarajevo como de um presságio do “início do grandioso combate de duas raças – os eslavos e os germânicos. A infelicidade de Áustria está em que a sua futura existência está intimamente ligada à pessoa do seu governante”. O jornal Tanin refere: “O assassinato do arquiduque irá provocar uma quebra de toda a política austríaca. É evidente que, tendo uma população composta em três quartos por eslavos, não se pode levar a cabo uma política germânica. O assassinato do herdeiro foi uma consequência dessa política errada.”
A Primeira Guerra Mundial foi o resultado dessa política.
Fonte: Voz da Rússia
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