Milhares de mulheres saem às ruas nesta quarta-feira em Brasília-DF (18), contra a histórica condição de rebaixamento que as mulheres negras foram obrigadas a passar no Brasil durante séculos, processo que ainda reflete nas relações sociais contemporâneas. Está prevista a participação de 24 a 30 mil pessoas na manifestação, além de delegações vindo da América Latina e África.
Por Laís Gouveia
Segundo Mônica Custódio, secretária de igualdade racial da CTB e uma das organizadoras da marcha, a ação cumpre o papel de buscar uma reparação histórica do protagonismo da mulher negra e dar visibilidade as suas movimentações. “Em todo o passado de nosso país, nós ocupamos as principais trincheiras de resistência, principalmente, contra o patriarcado. As primeiras assalariadas foram as mulheres negras, assim como as primeiras ações de empreendedorismo, tendo em vista que, muitas mulheres, juntavam dinheiro para comprar e alforria dos seus filhos e maridos. O candomblé e umbanda, por exemplo, eram formas superinteligentes de respeito a outras crenças, mesclando a religião com um ambiente de resistência à escravidão”.
A secretaria afirma que nos dias atuais, é importante frisar que as reivindicações da mulher negra vêm ao encontro da luta de gênero e que, acima de tudo, perpassa por uma questão classista. “Muitas vezes tal reconhecimento não existe, por isso, a marcha possui o significado também de reafirmar tais aspectos para dentro e fora do movimento social”, aponta.
Mônica alerta para a situação atual da população negra que, mesmo com a implementação nos últimos 12 anos de políticas públicas de inclusão racial, ainda sofre com o genocídio da juventude e com o feminicídio das mulheres. “Tivemos avanços históricos, no que diz respeito às políticas públicas de inserção na educação e saúde, mas travamos em outros aspectos importantíssimos. Não vamos obter conquistas profundas sem salários iguais com trabalhos de igual valor. Na terceira onda cientifico industrial, Marx nunca teve tanta razão. É a concentração se renda que gera a discriminação, baseado no critério de cor, raça e gênero. Fazer a luta de classes neste contexto conjuntural, com o reconhecimento da militância é essencial”.
Mônica Custósdio
Quando indagada sobre a faces do preconceito, Mônica afirma que, o racismo institucional, é o principal inimigo de classe. “É uma espécie de racismo que dá toda a segurança para o estado cometer suas atrocidades. Mulheres negras sofrem preconceito nos hospitais, mesmo quando não cometem o aborto e na hora do parto, são vítimas da negligência. A forma que a polícia entra, por exemplo, em uma festa rave: O policial bate na porta com toda educação. Em baile funk já chegam atirando. No mercado de trabalho é a diferença salarial que abate a população negra. Na educação, são vários casos de estudantes negros que sofrem ofensas pesadas nas universidades e que tal crime não gera punição alguma.
O racismo recrudesce, precisamos lutar a cada dia mais contra tal situação”, conclui.
Fonte: Vermelho Org
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